Governo terá de cortar R$ 39 bi para cumprir meta, diz entidade
mercado projeta para o sistema financeiro como um todo. Ou seja, o resultado pode ser menor que a inflação —analistas esperam alta de 4,7% para os preços neste ano.
“O ‘guidance’ [meta] tem traços de conservadorismo, com a prudência necessária e correta para o ano de virada”, afirmou Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco.
A inadimplência do Bradesco continuou a subir no trimestre passado e alcançou 5,5% do total emprestado. Esse percentual é maior que os 4,1% registrados em dezembro de 2015 e também mostra aumento nos calotes em relação a setembro, quando a inadimplência foi de 5,4%.
“O pico da inadimplência está ocorrendo agora. Em algumas linhas, pode ser que ocorra talvez neste trimestre”, disse Carlos Firetti, diretor de relações com investidor.
Entre setembro e dezembro, o banco reduziu despesas contra possíveis calotes em 3,8%, para R$ 5,5 bilhões, uma sinalização de que os executivos esperam maior pontualidade nos pagamentos daqui para a frente. Mas, entre dezembro de 2015 e 2016, essa despesa cresceu 31,8%.
Para compensar o crédito em baixa, a receita com tarifas do Bradesco cresceu 14,4%, para R$ 7,6 bilhões.
A IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão de avaliação de contas públicas ligado ao Senado, estima que o deficit primário (receitas menos despesas antes do pagamento de juros) do setor público vá ser de R$ 182 bilhões em 2017, ou seja, R$ 39 bilhões superior à meta do ano.
Para alcançar a meta, portanto, seria necessário cortar esse mesmo valor em despesas para ficar dentro do limite de R$ 143 bilhões. O valor do corte representa uma queda real (descontada a inflação) de 0,5% nos gastos, em vez do aumento de mais de 2% previsto atualmente.
A instituição também discorda das projeções do governo de que as contas públicas voltarão ao azul a partir de 2019 e projeta superavit apenas a partir de 2024.
O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, rebateu as projeções do IFI. Na avaliação dele, a PEC do Teto, que limita os gastos à inflação dos 12 meses anteriores, permitirá a queda da despesa primária nos próximos dois anos. Ao mesmo tempo, a arrecadação crescerá acima do PIB.
“Achei as hipóteses muito pessimistas. [O relatório] prevê que, mesmo quando houver crescimento, não haverá um impacto extra sobre a arrecadação. Parece-me uma hipótese implausível.”
Para o diretor-executivo do IFI, Felipe Salto, com quem Mansueto lançou um livro sobre as finanças públicas no governo Dilma Rousseff, quando a receita voltar a subir, acompanhará o mesmo crescimento do PIB.
Outro ponto considerado pessimista pelo secretário no relatório é a estimativa de que a dívida pública, que terminou o ano passado em 69,5%, alcance 76,9% do PIB no final de 2017.
Sobre o contingenciamento de R$ 39 bilhões projetado pelo IFI, Mansueto disse que é cedo para fazer a conta.
“Há receitas que vão entrar, como o novo leilão do pré-sal. Do lado das despesas, muita coisa não vai se repetir, como a ajuda ao Rio de R$ 2,9 bilhões, as tarifas bancárias atrasadas de R$ 2,6 bilhões, a capitalização da Eletrobras, as despesas de exercícios anteriores, que foram de cerca de R$ 10 bilhões.”