Folha de S.Paulo

Temer conserta a casa para o inverno

- VINICIUS TORRES FREIRE

O INVERNO ESTÁ chegando, sabe muito bem Michel Temer. No recesso político do verão, o presidente foi uma formiga operosa, que fez muito a fim de proteger seu trono da frente fria que virá de Curitiba, entre outras frias.

Além do mais, contou com a ajuda do colegiado ou acordão informal que prega meias-solas nas instituiçõ­es furadas, evita conflitos mortais nas cúpulas políticas e lhe dá apoio na elite econômica.

Supremo, elite do Senado, PSDB e a coalizão informal de empresaria­do e elite “reformista” parecem ter feito um acordo tácito de estabilida­de, de conter a degradação séria que se via antes do recesso. Isto é, conflitos entre Judiciário e Congresso e repique agudo de crise de confiança na economia e no compromiss­o de Temer com a “Ponte para o Futuro”.

Difícil dizer agora se vai ter mesmo votos para aprovar o que importa no Congresso (reforma da Previdênci­a) ou se seu governo vai ser congelado na Lava Jato. No entanto, Temer colocou alguma ordem na sua casa e contou com algumas sortes do destino. Considerem.

1) Temer venceu com seus aliados as eleições para o comando de Câmara e Senado com danos ao que parece menores às bases de sua coalizão. Rodrigo Maia (DEM) tanto vai liderar o governo na Câmara. Eleito, prometeu apoiar as reformas da “Ponte para o Futuro”;

2) O presidente não interferiu na sucessão de Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato. Evitou, assim, atrair ira contra seu governo. Até agora, parece decidido a escolher um nome neutro, “técnico e discreto” para o Supremo, alguém do STJ, talvez uma mulher. Procura explicitam­ente ficar em bons termos com Cármen Lúcia, presidente do Supremo;

3) Firmou um acordo definitivo com o PSDB. Conseguiu amaciar a nomeação do deputado tucano Antonio Imbassahy para a Secretaria de Governo, vaga com a queda escandalos­a de Geddel Vieira Lima (PMDB);

4) O PMDB estava com ciúme do tucano no Planalto; o moribundo centrão fazia chacrinha a fim de ganhar um troco. Temer deu um jeito na crise potencial. Levou Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidênci­a, reacomodan­do o PMDB na cozinha política do Planalto. De resto, deu um habeas corpus preventivo ao agora ministro, de foro privilegia­do. O resto do centrão pode ser aplacado com cargos de baixo custo;

5) O Supremo procura sanar a turumbamba do final do ano passado. Não entrou na bola dividida da mumunha da reeleição legalmente suspeita de Maia na Câmara. Jogou para as calendas um processo conflituos­o, a decisão sobre o impediment­o de réus na linha sucessória da Presidênci­a, que pode decapitar presidente­s de Câmara e Senado;

6) No recesso, apareceram motivos reais para acreditar que a recessão pode ter um fim. A inflação passou a cair rápido, assim como os juros básicos, o que conteve o repique da desconfian­ça econômica. Apesar do desastre social, que prossegue, parece haver uma porta de saída da crise, o que pelo menos reanima as bases de Temer na elite econômica

7) Nomeou uma ministra negra, também tucana, a desembarga­dora aposentada Luislinda Valois, para uma pasta de direitos humanos. No mínimo, Temer começa a fazer relações públicas com o mundo exterior ao da bolha de seu governo.

Não foi pouco. vinicius.torres@grupofolha.com.br

Presidente vence no Congresso, rearruma política, faz pazes com o STF e tem sorte melhor na economia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil