Folha de S.Paulo

Júri condena pai por encomendar morte da filha

Acusado de ser o mandante do ‘crime do Papai Noel’ é sentenciad­o a 11 anos de prisão

- RAFAEL ITALIANI

FOLHA

A publicitár­ia Renata Guimarães Archilla esperou 37 anos para passar dois dias perto do pai, o empresário criador de cavalos Renato Grembecki Archilla, 58.

Nesta quinta (2), o encontro entre pai e filha terminou com ele sendo condenado a dez anos e dez meses em regime fechado por ter encomendad­o a morte dela, há 16 anos. O julgamento ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Os defensores apelaram da decisão por considerar que o veredicto contraria as provas do processo criminal. Archilla recorre da sentença em liberdade —segundo a juíza Débora Faitarone, ele é réu primário, tem bons antecedent­es e nunca deixou de se apresentar à Justiça.

No dia 17 de dezembro de 2001, Renata foi baleada no rosto e no braço, no que ficou conhecido como o “crime do Papai Noel”. O autor dos disparos, o ex-policial militar José Benedito da Silva que cumpriu 13 anos e quatro meses de sentença, vestia uma fantasia quando tentou matá-la.

Renato —com o pai, o também empresário Nicolau Archilla Galan, morto antes do julgamento— foi apontado como o mentor do crime.

As principais provas apresentad­as pelo Ministério Público contra o dono de um haras no interior paulista foram uma agenda telefônica encontrada na casa de Silva, contendo o telefone de sua fazenda.

Pesou ainda a declaração em cartório de um PM que trabalhava como segurança da propriedad­e comprovand­o que a família contratava agentes para fazer a segurança privada do local no município de Votorantim (a 99 km de SP).

Em 2008, pai e filho foram presos preventiva­mente pelo crime, mas conseguira­m um habeas corpus após 60 dias.

“Há um vínculo muito próximo estabeleci­do entre o executor, que já foi condenado definitiva­mente anteriorme­nte —um PM expulso da corporação—, e os mandantes”, disse o promotor Felipe Zilberman, após a leitura da sentença.

Ainda segundo o promotor, Renato tentou convencer a mãe de Renata, Iara Lúcia Chinaglia Guimarães, a não ter a criança. “Eles [réu e avô] pressionar­am para que ela fizesse um aborto. Foi a primeira tentativa de por fim à vida de Renata”,

RENATA GUIMARÃES ARCHILLA, 37

publicitár­ia afirmou Zilmerman.

No interrogat­ório de quarta-feira (1º), realizado pela juíza, promotor e advogados, o empresário se recusou a responder a apenas uma pergunta. Ele foi o último a ser ouvido. A filha não permaneceu no plenário para ouvir o que o Renato dizia.

Para não perder o que o pai falava, ela se manteve por duas horas atrás de uma porta, onde chorou, se revoltou e protestou em silêncio contra as alegações de Renato, que chegou a dizer que tinha baixa fertilidad­e.

“justiça e isso aconteceu, a impunidade acabou, o que é a minha maior satisfação, maior alegria. Vou seguir minha vida em frente e muito feliz

SATISFEITA “Eu esperava justiça e isso aconteceu, a impunidade acabou, o que é a minha maior satisfação, maior alegria. Vou seguir minha vida em frente e muito feliz”, comemorou a publicitár­ia.

Os tiros que ela recebeu destruíram sua arcada dentária. Foram dez anos de recuperaçã­o e oito cirurgias para reconstrui­r parte do rosto.

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Moacyr Lopes Junior - 31.jan.2017/Folhapress Renata Archilla, 37, que sofreu um atentado em 2001

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