Folha de S.Paulo

CAMPO MINADO

Buracos espalhados por ruas de todas as regiões da cidade de São Paulo irritam motoristas, que acumulam prejuízos e risco de acidentes

- RICARDO BUNDUKY COLABORAÇíO PARA A ARTUR RODRIGUES

DE SÃO PAULO FOLHA

“Só tem buraco. Sai de um, cai em outro”, diz Miguel de Almeida, 65. “Meu carro está parecendo uma carroça. Já tive que arrumar pneu, roda, amortecedo­r”, conta Renan dos Santos Oliveira, 26. “Sem sinalizaçã­o, pode até matar”, observa João Gaudino, 49.

Os relatos dos motoristas refletem um problema conhecido dos paulistano­s em meio às chuvas de verão: os buracos no asfalto estão por todos os lados, grandes, pequenos, novos ou “ressuscita­dos”.

Após percorrer as diferentes regiões de São Paulo nesta semana, a Folha identifico­u uma cena comum: dezenas de buracos nas vias.

O problema ficou acentuado no fim da gestão Fernando Haddad (PT) e se estendeu pelo começo da gestão João Doria (PSDB) —que tem como bandeira um programa de zeladoria, o Cidade Linda.

As consequênc­ias desse campo minado são a piora no trânsito, riscos de acidentes e avarias em peças do carro. “Faço balanceame­nto das rodas e, depois de um mês, elas já estão tortas de novo”, diz Pedro Tenório da Silva, 47, motorista do aplicativo Uber.

Entre os pontos críticos, uma cratera no cruzamento da rua dos Trilhos com a Visconde de Laguna, na Mooca (zona leste), chama a atenção.

Pouco antes do semáforo, ônibus são desviados para a faixa ao lado. “No horário de pico, a fila vai parar na Radial Leste [a 800 m dali]”, diz Amarildo Rideti, 50, morador da região. A prefeitura afirma estar concluindo os reparos.

Na rua Ana Cintra com a av. São João, no centro, a abertura profunda engole a base do cone da CET. Mas não é sempre que esse objeto fica no lugar. “Quando chove forte, a água carrega ele”, diz Henrique Armando, 54, administra­dor de um estacionam­ento.

Sem sinalizaçã­o e escondida pela enchente, a cratera é uma ameaça para motoristas e pedestres. “Outro dia um carro ficou preso, engatou a marcha a ré para sair e bateu no veículo de trás”, conta Carlos Augusto da Silva, 59, porteiro de um prédio no local.

A zeladora do mesmo condomínio, Dina Matsubara Franco, 73, diz gritar para alertar pedestres durante os temporais, quando eles “atravessam a rua mais depressa”.

Rente ao meio-fio da rua Augusta, outra fissura é conhecida pelos banhos em quem passa a pé pelo local. “Uma mãe ficou doidinha quando encharcara­m o filho dela e correu atrás do carro para tirar satisfaçõe­s”, relata Paulo dos Santos Bezerra, 57, dono de um bar na região.

A prefeitura diz que o buraco da rua Ana Cintra foi inserido na programaçã­o de re- paros e que o da rua Augusta foi causado pela Sabesp, que faria o conserto em até 20 dias (a empresa afirma que seu trabalho já foi concluído). FALTA DE ASFALTO A gestão Doria diz ter ampliado de 31 para 75 as equipes de tapa-buraco, “número ainda insuficien­te para fazer frente às necessidad­es”.

Afirma que a programaçã­o dos serviços sofre alguns atrasos em razão das chuvas.

O número de buracos tapados teve forte redução em 2016, conforme dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. A média de reparos por mês caiu de 35,6 mil, em 2013, para 16,6 mil, em 2016 —uma variação negativa de 53,1%. Em novembro, último mês do levantamen­to, apenas 7,6 mil buracos foram tapados.

A falta de manutenção gerou cresciment­o de 39,6% nas queixas sobre a situação das ruas feitas à Ouvidoria do Município, comparando janeiro a setembro de 2016 com igual período do ano anterior.

A gestão Doria afirma estudar a extinção da usina de asfalto da cidade e trabalhar “em um novo edital de licitação para definir um serviço mais eficiente e barato”.

A usina já teve sua operação paralisada no fim de 2016. Um acordo com a Promotoria previa fechar a área, na Barra Funda (zona oeste), devido ao impacto na vizinhança. O terreno deve ir para habitação social, em programa do governo estadual.

O TCM (Tribunal de Contas do Município) também barrou em 2016 um processo de compra de massa asfáltica.

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Buracos na rua Ana Cintra, esquina com a av. São João (à esq.), na rua dos Trilhos (acima, à dir.) e na rua Itabaiana, na Mooca (zona leste); gestão diz ter elevado equipes para reparo

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