Zeca Baleiro dá esperança de renovação ao gênero no país
Já se percebiam os primeiros sinais em sua “Paixão Segundo Nelson”, um ano atrás, mas agora Zeca Baleiro confirma ser uma esperança para o musical brasileiro, sempre às voltas com a falta de compositores que compreendam o gênero.
Baleiro cresce de maneira evidente, daquela adaptação de Nelson Rodrigues para esta versão de Dias Gomes. As músicas que compôs para as boas letras deixadas pelo dramaturgo são o melhor desta montagem.
Saltam de estilo conforme a exigência de cada quadro. Conseguem mascarar, até certo ponto, a dramaturgia irregular. Mas é difícil ultrapassar, por exemplo, a inverossimilhança da cena da morte do herói ou a fragilidade de alguns papéis. É o caso da “ingénue” vivida por Mel Lisboa, cuja presença de palco, já estabelecida noutros musicais, supera em muito a sua Mocinha.
Nem todos os tipos criados por Dias Gomes são frágeis. Jarbas Homem de Mello tem a grande atuação da montagem como Chico Malta, em alguns momentos quase como homenagem a Lima Duarte, noutros muito diverso, menos “coronel” de novela dos anos 1970/80 e mais sensual, agressivo.
Lívia Camargo não tem o carisma que Porcina requer, sobretudo em produção tão vinculada à novela, que foi marcada pela interpretação de Regina Duarte. Embora tenha boas cenas cômicas a partir de meados da apresentação, o efeito é de sufocamento da personagem.
O Roque do título, feito por Flávio Tolezani, tropeça num outro obstáculo renitente: as tentativas do autor de costurar mensagens próprias de seu engajamento à época —questionando a ideia de herói, o militarismo, a guerra— soam fora de lugar, como enxertos, como efeitos de distanciamento enfiados numa telenovela.
A encenação abraça o que o texto tem de mais farsesco, abusando da comunicação direta com o público, geralmente bem-sucedida. Refletindo o que “Roque” tem de melhor, banda e elenco se integram pela música. Marco França, dividido entre os instrumentos e seu personagem, Toninho Jiló, é o coração do espetáculo. QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h ONDE Teatro Faap, r. Alagoas, 903, tel. 3662-7233/7234 QUANTO R$50aR$90 (dia 3/2: R$ 30) AVALIAÇÃO bom