Folha de S.Paulo

Partidos delatados vão pedir fim de sigilo a relator no STF

PMDB, PSDB e PSD tentam diluir o impacto do conteúdo das delações

- DANIELA LIMA

A praxe é que o Supremo só decida sobre fim de sigilo após a Procurador­ia fazer pedido neste sentido

Dirigentes de partidos da base do governo Michel Temer articulam ir, na próxima semana, ao gabinete do ministro Edson Fachin, novo relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), defender o fim do sigilo de delações premiadas. O movimento une a cúpula do Congresso e conta com o apoio do Planalto.

O alvo principal do pleito é o acordo de colaboraçã­o premiada firmado por 77 executivos da Odebrecht. Ele foi homologado pela presidente do Supremo, Cármen Lúcia, no último dia 30, mas ela decidiu manter os depoimento­s sob sigilo.

Segundo o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), citado em delações da Lava Jato, ao menos três siglas manifestar­am interesse em conversar sobre o assunto com Fachin: a dele, o PSDB e o PSD. “Como dirigente de partidos muitos me procuraram no sentido de ir ao STF, ir ao Fachin, conversar sobre a situação”, disse.

O argumento de Jucá e de uma série de políticos que passaram a pregar o fim do sigilo é de que está em curso uma espécie de “linchament­o público” de citados com base no vazamento de informaçõe­s.

Nos bastidores, a avaliação é que a abertura dos depoimento­s diluiria o impacto de notícias negativas, evitando que cada integrante do Congresso ou do governo tomasse “um tiro por dia”. TEMER O fim do sigilo da delação firmada pela Odebrecht já foi defendido publicamen­te pelo presidente Michel Temer. Ainda em dezembro, quando citações ao nome de Temer na delação de um lobista da empreiteir­a foram publicadas pela imprensa, o presidente enviou um requerimen­to ao Ministério Público Federal.

No texto, pedia que os depoimento­s (àquela época ainda não homologado­s) fossem remetidos “ao juízo competente para análise e eventual homologaçã­o e divulgação por completo”. “Com isso, a eventual responsabi­lidade criminal dos investigad­os será logo aferida”, concluiu.

Esta semana, após a Folha revelar que executivos da empreiteir­a baiana disseram aos investigad­ores que Aécio Neves (PSDB-MG), quando governador de Minas, participou de uma reunião para tratar de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade Administra­tiva, o hoje senador publicou nota na qual também cobrava o fim do segredo de Justiça. Ele chamou as afirmações da empreiteir­a de “falsas” e “absurdas”.

O material da Odebrecht está sob análise da Procurador­ia-Geral da República. Caberá ao órgão pedir diligência­s e eventuais aberturas de inquéritos contra políticos mencionado­s. A praxe é que o Supremo só decida sobre fim de sigilo após a Procurador­ia fazer um pedido neste sentido.

Jucá se tornou o porta-voz deste pleito no Congresso ao anunciar que apresentar­ia um projeto de lei que prevê o fim do sigilo sobre delações homologada­s e sobre ações penais ou de improbidad­e administra­tiva que envolvam agentes públicos. CAMINHO À Folha, o senador do PMDB afirmou que entrou em contato com integrante­s do Ministério Público Federal para abrir caminho ao debate da proposta.

“Ninguém quer atrapalhar as apurações. E sabemos que alguns processos têm que correr em sigilo para preservar dados e o avanço da investigaç­ão. Evidenteme­nte, nesses casos, tem que permanecer em sigilo”, disse Jucá.

Ele afirmou ainda que o projeto não tem como alvo apenas a delação da Odebrecht, mas combater o que chama de “um sistema de acusações sem contrapeso e sem transparên­cia”.

“O que há hoje é a antecipaçã­o do julgamento. Há o vazamento seletivo e uma condenação na opinião pública. Quando o devido processo legal, que se desenrola lá na frente, chega ao fim, já houve o linchament­o público”, argumenta.

Líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP) endossa o discurso.

“Veja, a Folha divulga o conteúdo de uma denúncia e depois escreve que ela está em segredo de Justiça. Muitas vezes não são sequer delações, mas roteiros. Na verdade, o que se tem é um segredo de polichinel­o.”

“Acho preferível a abertura dos dados ao segredo de polichinel­o e ao vazamento ilegal”, disse o tucano.

Um dos primeiros caciques do Senado a encampar a tese foi o senador Renan Calheiros (AL), hoje líder do PMDB. Ele é alvo de oito inquéritos baseados na Lava Jato.

 ?? Alan Marques - 11.jan.2017/ Folhapress ?? Aécio Neves cobrou nesta semana o fim do segredo de Justiça
Alan Marques - 11.jan.2017/ Folhapress Aécio Neves cobrou nesta semana o fim do segredo de Justiça
 ?? Ruy Baron - 13.dez.2016/Valor ?? Renan Calheiros, um dos primeiros a pedir o fim do sigilo
Ruy Baron - 13.dez.2016/Valor Renan Calheiros, um dos primeiros a pedir o fim do sigilo
 ?? Alan Marques - 13.dez.2016/ Folhapress ?? Romero Jucá diz que tenta abrir diálogo com a Procurador­ia
Alan Marques - 13.dez.2016/ Folhapress Romero Jucá diz que tenta abrir diálogo com a Procurador­ia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil