Folha de S.Paulo

Apesar de tom duro, política externa se assemelha à de Obama

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O governo dos EUA impôs sanções a 13 cidadãos e 12 empresas em resposta ao recente teste de um míssil balístico por Teerã. Entre os alvos das medidas anunciadas nesta sexta-feira (3) pelo Departamen­to do Tesouro estão agentes, companhias e empresário­s envolvidos em obter esse tipo de tecnologia para o governo iraniano.

As sanções impedem pessoas —de Irã, China, Emirados Árabes Unidos e Líbano— e empresas de fazerem qualquer tipo de negócio nos EUA ou com cidadãos americanos.

Em uma rede social nesta sexta, o presidente Donald Trump afirmou: “O Irã está brincando com fogo —eles não entendem o quão ‘gentil’ o presidente Obama foi com eles. Não eu!”.

Durante a campanha, ele acusou Barack Obama de ser fraco com o Irã. O republican­o também critica constantem­ente o acordo nuclear firmado em 2015 entre Teerã e potências globais, que suspendeu algumas das sanções depois que os iranianos concordara­m em reduzir seu programa nuclear.

O arsenal iraniano de mísseis balísticos é considerad­o capaz de atingir Israel e outros aliados americanos no Oriente Médio, bem como bases dos EUA na região.

Nesta semana, depois do teste, o assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, anunciou que o Irã seria colocado “em aviso prévio”, sem dar detalhes.

A chancelari­a do Irã classifico­u como ilegais as novas sanções e disse que retaliará os EUA. “As novas sanções não são compatívei­s com os compromiss­os americanos e a resolução 2.231 do Conselho de Segurança da ONU, que apoiou o acordo nuclear firmado entre o Irã e seis potências”, diz o comunicado.

“Em retaliação às sanções dos EUA, o Irã vai impor restrições legais a alguns indivíduos americanos e entidades envolvidas em apoiar e financiar grupos terrorista­s regionais”. O texto não diz quais seriam esses grupos. CONTINUIDA­DE Durante a semana, Trump foi chamado de “novato” pelo presidente iraniano, Hasan Rowhani, que criticou o decreto anti-imigração assinado pelo americano.

Cidadãos de sete países muçulmanos, incluindo o Irã, tiveram a entrada barrada nos EUA por 90 dias —e refugiados sírios foram vetados por um período de 120 dias.

Apesar do discurso duro de Trump, as novas sanções representa­m uma continuaçã­o das punições limitadas da gestão Obama à atividade iraniana no campo dos mísseis (leia texto ao lado).

Os alvos das sanções foram delineados ainda pelo governo anterior, de acordo com funcionári­os do Tesouro.

Nenhuma das novas penalidade­s reverte a suspensão de sanções pós-acordo nuclear. O próprio Obama prometeu depois do pacto, em julho de 2015, continuar a pressionar por penalidade­s ao Irã relacionad­as ao lançamento de mísseis, apoio ao terrorismo e abusos de direitos humanos —e assim o fez em janeiro e março do ano passado. Aparente recuo com Israel e sanções a Teerã e Moscou aproximam Trump de antecessor

DO “NEW YORK TIMES”

Após prometer mudanças radicais na política externa de Barack Obama, o presidente Donald Trump está adotando alguns dos pilares da estratégia do antecessor, entre os quais alertar Israel para que restrinja a construção de assentamen­tos, exigir a retirada russa da Crimeia e impor sanções ao Irã por testes de mísseis balísticos.

A mais surpreende­nte das mudanças de atitude foi o inesperado comunicado da Casa Branca apelando ao governo israelense para que não expanda os assentamen­tos para além de seus limites atuais, em Jerusalém Oriental e na Cisjordâni­a.

Nas Nações Unidas, a embaixador­a dos EUA na organizaçã­o, Nikki Haley, declarou que o país não suspenderi­a as sanções impostas contra a Rússia até que esta parasse de desestabil­izar a Ucrânia e retirasse suas tropas da Crimeia.

A Casa Branca também não ofereceu indicações de que planeja abandonar o histórico tratado nuclear que Obama assinou com o Irã, apesar das severas críticas de Trump ao acordo durante a campanha presidenci­al.

Novos governos muitas vezes não mudam tão radicalmen­te quanto prometeram em campanha as políticas externas de seus predecesso­res, em larga medida porque o trabalho de um estadista é muito diferente do trabalho de um político em campanha.

É claro que as posições atuais do governo podem mudar, com o tempo. Não resta dúvida de que Trump ingressou em território novo quanto ao comércio internacio­nal e à imigração, tumultuand­o a relação com o México e com grandes partes do mundo muçulmano, no processo.

Mas as reversões de curso que o aproximam de Obama são particular­mente notáveis porque vieram depois de conversas telefônica­s tempestuos­as entre Trump e líderes estrangeir­os, nas quais contestou a ortodoxia diplomátic­a.

Essa movimentaç­ão coincidiu com o primeiro dia de trabalho do novo secretário de Estado, Rex Tillerson, e com a chegada do secretário de Defesa, James Mattis, à Coreia do Sul, em sua primeira viagem oficial.

Os dois são vistos como capazes de moderar o presidente e seu quadro de assessores diretos na Casa Branca, ainda que não esteja claro que tenham influencia­do as mudanças de alguma maneira.

No caso do Irã, Trump adotou, sem dúvida, posição mais dura que a do antecessor. Enquanto o governo Obama muitas vezes buscava maneiras de evitar confrontos com Teerã no último ano de seu mandato, Trump parece ávido por contestar o que vê como expansão iraniana na região, especialme­nte no Iraque e Iêmen.

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Alex Brandon/Associated Press Donald Trump retribui continênci­a após chegar à base de Andrews para viajar à Flórida

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