Folha de S.Paulo

Carnaval impulsiona ‘economia feminista’ em redes sociais

- FERNANDA PERRIN

“Miga, se joga!” Com essa saudação, Heloíza Romão, 22, dá as boas-vindas da loja on-line El Gato Store e sua coleção de fantasias para o Carnaval.

Engana-se, porém, quem espera encontrar no site roupas de coelhinhas sexy, diabinhas sexy, freiras sexy ou tubos de ketchup sexy (sim, isso existe). No bloco de Romão, pulam unicórnios, sereias, cervos e até Pokémons.

“O Carnaval é uma questão difícil porque tem o estereótip­o da mulher pelada, coelhinha da Playboy. Por que temos de nos vestir para satisfazer fetiche alheio?”, diz.

Em janeiro, foram 300 vendas, afirma Romão, que confeccion­a todos os produtos. Há um mês, ela deixou o emprego para se dedicar exclusivam­ente à El Gato.

Sem dinheiro sobrando para se divulgar, uma de suas apostas é o grupo no Facebook Compro de Quem Faz das Minas Sampa, espaço para comércio de bens e serviços entre mulheres e que tem mais de 40 mil membros.

De tatuagem a bolo de festa, de marmita fitness a lubrifican­te orgânico, de “marida de aluguel” a maquiadora a domicílio —é possível encontrar de tudo na comunidade, desde que seja produzido artesanalm­ente pelas “minas”.

“Há muitas meninas lésbicas que foram expulsas de casa, mães solteiras com filho pequeno. Então o grupo acaba sendo uma ajuda mútua”, afirma Romão.

É no Carnaval que essa economia feminista explode, na onda da busca por peças personaliz­adas com referência­s pop ou militantes —produtos raros no varejo—, de acordo com Nina Ferreira da Silva, 26, uma das moderadora­s da comunidade na rede social.

“No começo nós fizemos peças achando que as meninas queriam ir de fada, saias muito curtas. Depois tivemos de mudar a pedido do pessoal”, diz Camila Kuwabata, 27, que, em parceria com a irmã gêmea, Carolina, criou a loja on-line Feito a Manas, de

NINA FERREIRA DA SILVA

moderadora do grupo Compro de Quem Faz das Minas Sampa acessórios carnavales­cos.

A meta das duas era juntar dinheiro para gastar na própria festa, mas as vendas animaram as irmãs a tornar o negócio permanente.

No caso da moderadora Nina, atualmente desemprega­da, 80% da sua renda vem das vendas de bolsas artesanais na comunidade.

Essa é a situação de muitas participan­tes do grupo. Também desemprega­das, a artista plástica Melissa Lagôa, 40, e a publicitár­ia Camila de Michielli, 39, colocaram a DoBalacoba­co de pé há pouco mais de uma semana para aproveitar a moda dos blocos carnavales­cos.

Um dos grandes diferencia­is do grupo é que ele admite negócios sem estrutura nenhuma —como um site— e sem cobrar taxas.

É comum que pagamentos sejam via transferên­cia da conta da cliente para a da vendedora, que se compromete a entregar o produto em uma estação de metrô ou enviá-lo pelos Correios.

A dinâmica funciona graças à confiança entre as “minas”, que também costumam publicar feedbacks tanto para endossar e incentivar experiênci­as positivas quanto para alertar sobre problemas.

“A ideia do grupo é gerar um mercado entre mulheres, pensar primeiro nelas, porque o mercado de trabalho já pensa primeiro no homem”, afirma Nina.

A ideia é gerar um mercado entre mulheres, pensar primeiro nelas, porque o mercado de trabalho já pensa primeiro no homem

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Da esq. para a dir., tiara de cervo, de sereia e de Pokémon confeccion­adas por Heloíza Romão, dona da loja virtual El Gato Store, anunciadas em comunidade exclusiva de mulheres

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