Folha de S.Paulo

Droga para cavalos é usada em golpe no centro

Em variação do ‘boa noite, Cinderela’, vítimas são dopadas com anestésico de uso veterinári­o e roubadas

- CHICO FELITTI 2.378, Cerqueira César. EMIRA GALIB GONZAGA - Neste sábado (4), às 15h, na Igreja de Sto. Ivo, largo da Batalha, 189, Jd. Luzitania. OCTAVIO BONAFÉ - Neste domingo

FOLHA

Quando Jô (nome fictício) acordou na praça da República (centro), não lembrava seu nome ou o que fazia ali na manhã de um sábado.

E, mesmo que o publicitár­io de 30 anos tivesse no bolso o celular, que havia sido subtraído por ladrões, não teria achado nele muita informação: as mesmas pessoas que haviam feito transações de R$ 40 mil com seus cartões de crédito e de débito durante a madrugada também haviam mudado as senhas das suas redes sociais e e-mail.

Enquanto subia a avenida Angélica a pé, sem dinheiro para pegar um táxi, Jô começou a se lembrar da noite anterior. Estava na calçada em frente a uma casa noturna da República até que um homem puxou papo. Aceitou uma cerveja do desconheci­do e, depois dos primeiros goles, perdeu a consciênci­a.

Ele foi uma das vítimas de um golpe, o “boa noite, Cinderela”, em que sedativos são colocados na bebida da vítima. Nos últimos meses, jovens frequentad­ores de festas do centro passaram a registrar casos do crime, até então mais ligado a casas noturnas caras de bairros nobres.

Ao registrar o boletim de ocorrência, Jô fez um exame toxicológi­co do IML, que apontou dois tipos de cetamina em sua corrente sanguínea.

O anestésico usado em cavalos tem em humanos o efeito de induzir um transe, em que a pessoa fica desperta e capaz de se comunicar, ainda que sem memórias do que ocorre durante a sedação.

Um sentimento comum entre as vítimas é de vergonha. Nelson, que trabalha numa 1º MÊS empresa de comunicaçã­o, foi acordado por uma moradora de rua a dois quarteirõe­s de onde foi abordado por dois homens, com quem conversou enquanto estava do lado de fora da boate L’Amour.

“Eu não bebi nada que eles tenham oferecido. Desconfio que tenham colocado algo na minha cerveja.” O desfalque foi de R$ 9.000 e um celular.

O arquiteto Carlos estava saindo da boate A Loca, na rua Frei Caneca, quando foi parado por uma roda de três desconheci­dos, que o chamaram para tomar catuaba. Acordou sete horas depois na av. Nove de Julho, com R$ 7.000 a menos na conta.

A polícia diz que “investiga todos os casos que são registrado­s” e que trabalha no centro “para identifica­r e prender suspeitos” —agentes do 78º DP (Jardins) já prenderam um reconhecid­o por vítimas.

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Arquivo pessoal Nelson (nome fictício) perdeu R$ 9.000 ao sofrer golpe

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