Droga para cavalos é usada em golpe no centro
Em variação do ‘boa noite, Cinderela’, vítimas são dopadas com anestésico de uso veterinário e roubadas
FOLHA
Quando Jô (nome fictício) acordou na praça da República (centro), não lembrava seu nome ou o que fazia ali na manhã de um sábado.
E, mesmo que o publicitário de 30 anos tivesse no bolso o celular, que havia sido subtraído por ladrões, não teria achado nele muita informação: as mesmas pessoas que haviam feito transações de R$ 40 mil com seus cartões de crédito e de débito durante a madrugada também haviam mudado as senhas das suas redes sociais e e-mail.
Enquanto subia a avenida Angélica a pé, sem dinheiro para pegar um táxi, Jô começou a se lembrar da noite anterior. Estava na calçada em frente a uma casa noturna da República até que um homem puxou papo. Aceitou uma cerveja do desconhecido e, depois dos primeiros goles, perdeu a consciência.
Ele foi uma das vítimas de um golpe, o “boa noite, Cinderela”, em que sedativos são colocados na bebida da vítima. Nos últimos meses, jovens frequentadores de festas do centro passaram a registrar casos do crime, até então mais ligado a casas noturnas caras de bairros nobres.
Ao registrar o boletim de ocorrência, Jô fez um exame toxicológico do IML, que apontou dois tipos de cetamina em sua corrente sanguínea.
O anestésico usado em cavalos tem em humanos o efeito de induzir um transe, em que a pessoa fica desperta e capaz de se comunicar, ainda que sem memórias do que ocorre durante a sedação.
Um sentimento comum entre as vítimas é de vergonha. Nelson, que trabalha numa 1º MÊS empresa de comunicação, foi acordado por uma moradora de rua a dois quarteirões de onde foi abordado por dois homens, com quem conversou enquanto estava do lado de fora da boate L’Amour.
“Eu não bebi nada que eles tenham oferecido. Desconfio que tenham colocado algo na minha cerveja.” O desfalque foi de R$ 9.000 e um celular.
O arquiteto Carlos estava saindo da boate A Loca, na rua Frei Caneca, quando foi parado por uma roda de três desconhecidos, que o chamaram para tomar catuaba. Acordou sete horas depois na av. Nove de Julho, com R$ 7.000 a menos na conta.
A polícia diz que “investiga todos os casos que são registrados” e que trabalha no centro “para identificar e prender suspeitos” —agentes do 78º DP (Jardins) já prenderam um reconhecido por vítimas.