Folha de S.Paulo

Como fazer inimigos

-

RIO DE JANEIRO - Em 1936, o americano Dale Carnegie (1888-1955), professor de locução e oratória, publicou “Como Fazer Amigos e Influencia­r Pessoas”. Foi um dos primeiros livros de autoajuda explícita e já saiu vendendo que nem banana na feira. Oitenta anos depois, está na casa dos 50 milhões de exemplares, parte deles no Brasil, onde nunca saiu de catálogo. Uma pesquisa classifico­u-o em sétimo lugar entre os livros “mais influentes” produzidos nos EUA, ou seja, que mais fizeram a cabeça dos americanos — imagine os outros.

O que Carnegie aconselha? Que, ao tratar com alguém sobre qualquer assunto, você enxergue esse alguém como um futuro aliado, não um adversário. Ouça o que ele tem a dizer. Estimule-o a falar de si mesmo. Chame-o pelo nome. Faça-o sentirse importante. Cite os seus próprios defeitos antes de se referir aos dele. Em hipótese alguma desqualifi­que-o ou discuta com ele — não há ven- cedores numa discussão. Faça com que os problemas pareçam fáceis de resolver — e você verá como eles se resolverão. E, ah, sim, sorria sempre ao falar.

Parece idiota e talvez seja. Mas Carnegie ficou rico, fez “amigos” e influencio­u milhões. Bem, há um que ele não influencio­u: Donald Trump.

Em 20 dias falando grosso na Presidênci­a, Trump brigou com Canadá, México, China, Coreia do Norte, Austrália, Irã, Iraque, Líbia, Sudão, Somália, Síria, a União Europeia, a ONU e a Otan. Rebaixou os latinos em geral, declarou guerra à imprensa e, até a última contagem, já tem fortes inimigos em empresas como Netflix, Apple, Amazon, Microsoft, Google, Facebook, LinkedIn e Twitter, além de fábricas de automóveis, companhias aéreas e bancos.

Trump pode ter lido o livro de Carnegie e resolvido fazer tudo ao contrário. Exceto num item: comete suas barbaridad­es sorrindo — mesmo que apenas para si próprio. ANTONIO DELFIM NETTO

ideias.consult@uol.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil