Folha de S.Paulo

Trump e a galinha

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Donald Trump às vezes parece agir como uma criança. Sugiro então que alguém da Casa Branca leia para ele a fábula 87 (índice de Perry) de Esopo, aquela que conta a história do sujeito que coletava todos os dias um ovo de ouro posto por uma ave de sua propriedad­e. Um dia, ávido por colocar as mãos na maior quantidade de ouro possível e convicto de que existia um tesouro dentro do animal, decidiu abrir-lhe a barriga. Só encontrou tripas e acabou ficando sem a dose diária do metal precioso.

Minha impressão é que Trump age como o granjeiro bronco ao criar empecilhos à imigração. A atração de cérebros estrangeir­os é a verdadeira galinha dos ovos de ouro dos EUA. Uma análise de James Witte, da Universida­de George Mason, mostra que, de 1901 a 2015, nada menos do que 42% dos prêmios Nobel foram concedidos a pessoas que viviam nos EUA, o que explica a posição única do país em termos de produção científica e inovação, com importan- tes repercussõ­es para a economia e o desenvolvi­mento. O interessan­te é que 31% dos laureados “americanos” não haviam nascido nos EUA. Na população geral, a proporção de imigrantes nunca excedeu os 15%.

Alguém poderia argumentar que nenhum dos Nobel veio dos sete países “banidos” por Trump. Pode ser, mas a bagunça criada pelo presidente diminui a confiança no sistema. Hoje, um pesquisado­r de ponta com ofertas de várias universida­des competitiv­as pode ficar tentado a optar por uma instituiçã­o não americana.

Também é verdade que a maioria dos imigrantes não é galardoado com um Nobel. Mas é justamente a boa qualidade dos cientistas médios atraídos para os EUA que ajuda a criar as condições para que algumas equipes conquistem a láurea.

Mesmo se considerar­mos os imigrantes sem qualificaç­ão, já há uma série de estudos apontando que o país que os recebe mais ganha do que perde em termos econômicos. helio@uol.com.br

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