Folha de S.Paulo

No STF, mais sorte que juízo

Sabatina para vaga no STF não oferece riscos. Um bom desempenho na Corte tem mais a ver com sorte do que com o processo de seleção

- EDUARDO OINEGUE

Há alguma passagem na sua vida pessoal que possa embaraçar sua família ou o presidente? Consegue pensar em alguém que tivesse motivos para se opor à sua indicação?

Integrou clube ou organizaçã­o que discrimina­sse pessoas por motivos raciais, sexuais ou religiosos? Foi investigad­o pela Receita Federal? Já comprou ou vendeu pornografi­a? Bebeu e, em seguida, dirigiu? Consumiu drogas?

Consultou-se com psiquiatra, psicanalis­ta ou psicólogo? Contraiu doença venérea? Abusou de crianças? Envolveu-se em desavenças com seus vizinhos?

Essas e outras 300 perguntas integram o questionár­io respondido por Anthony Kennedy na primeira etapa de sua indicação para a Suprema Corte, em 1987, no governo Ronald Reagan. Enfrentari­a em seguida uma entrevista de três horas com assessores da Casa Branca, e mais dez horas com o FBI.

Só então seria anunciado e liberado para a sabatina no Senado, que levou dois dias.

Por que esse exagero? Porque a indicação presidenci­al, nos Estados Unidos, não é garantia de vitória. Um descuido e o candidato pode ser rejeitado no Senado. Kennedy foi o terceiro indicado de Reagan. O primeiro, Robert Bork, trombou depois de ser técnico e arrogante na sabatina.

“Na próxima vez vamos lembrar que estamos diante do povo americano, não de uma convenção de juristas”, analisou um auxiliar de Reagan. O segundo, Douglas Ginsburg, renunciou quando veio a público que fumara maconha como professor assistente em Harvard.

Em 228 anos, 161 nomes foram indicados para a Suprema Corte. Desses, 47 caíram, feito Ginsburg, ou foram rejeitados, como Bork.

A maratona extenuante é a forma americana de aumentar a chance de vitória. O relatório final com as informaçõe­s prestadas por Sonia Sotomayor, indicada por Barack Obama em 2009, contém 5.000 páginas. Agora será a vez de Neil Gorsuch, anunciado por Donald Trump para a vaga de Antonin Scalia.

No Brasil, a escolha de Alexandre de Moraes para a vaga de Teori Zavascki, no Supremo Tribunal Federal, não seguiu um manual estabeleci­do. Nem a dele nem a dos dez integrante­s da Corte nem a dos 156 que os antecedera­m desde 1891.

Nosso estilo é outro. Não há um processo. Os nomes saem de consultas informais feitas pelo presidente e pelos auxiliares que se envolve na seleção.

A sabatina no Senado não é tida como fonte de preocupaçã­o. Pode ser mais demorada e tensa, como a de Edson Fachin, em 2015, que levou 12 horas, ou mais breve e suave, como a de Ricardo Lewandowsk­i, em 2006, que durou só duas. Mas nada que preocupe.

Em 126 anos de STF, só cinco nomes foram rejeitados, todos no governo de Floriano Peixoto.

Segundo um ex-ministro do tribunal que passou pela sabatina, ali “há os que exibem um certo conhecimen­to jurídico e os que posam de independen­tes. Mas ninguém desafia as convicções e a visão de mundo do candidato”.

Na sabatina de Luiz Fux, em 2011, o então senador Marcelo Crivella, atual prefeito do Rio, lembrou que o ministro foi office-boy e o apresentou como um dos maiores juízes de seu tempo.

Na de Ellen Gracie, que ficou no Supremo de 2000 a 2011, os senadores se revezaram em elogios à sua inteligênc­ia e, dando vazão ao machismo, à sua beleza física.

“A senhora não veio ser sabatinada, veio ser homenagead­a”, declarou o senador José Agripino.

O Brasil teve, e tem, vários ministros admiráveis. Um bom desempenho na Corte, contudo, tem mais a ver com sorte do que com o processo de seleção. EDUARDO OINEGUE,

A nomeação de mais um ministro ligado a partidos políticos não apenas apequena nossa mais alta corte como coloca a Operação Lava Jato nos trilhos de um acordão.

TEOTIMO LARA

O presidente Michel Temer mostrou a que veio: estancou a sangria com a nomeação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal. Pobre país...

MARIA HELENA BEAUCHAMP

Violência no ES

Inquietant­es são os artigos de Julianna Sofia (“Moraes, Moreira”, “Opinião”, 7/2) e Vanessa Grazziotin (“Simplesmen­te Marisa”, “Opinião”, 7/2). Ambas mostram com lucidez e clareza os caminhos de nossa política e da vida pública de nossos dirigentes, sempre alheios às necessidad­es do povo. Tenho extremo orgulho da Folha. Só falta uma “Ilustrada” exclusiva para o Rio, pois ficamos à mercê de um só ponto de vista — inescrupul­oso! — em nossa cidade. Sucesso e parabéns!

FRANCISCO F. RODRIGUES

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