A realidade do financiamento estudantil
É justo exigir 450 pontos no Enem de quem não tem capacidade de atingi-los, já que o Estado não lhe deu as condições necessárias?
No Brasil, quem teve boa formação escolar, passando pelos melhores colégios particulares, estuda em universidades federais, bancadas com recursos públicos que jamais retornarão para a União.
Por outro lado, o aluno que se formou em escolas públicas, enfrentando toda sorte de dificuldades — falta de material didático, professores e outros—, só consegue cursar o ensino superior se recorrer às instituições particulares. Com raríssimas exceções.
Pesquisa realizada em 2016 pelo instituto MDA, que ouviu mil jovens de nove capitais brasileiras, mostra que 71,9% deles concluíram recentemente o ensino médio em escolas públicas municipais, estaduais ou federais. Os 28,1% restantes são provenientes de colégios particulares.
O Inep, órgão do Ministério da Educação, divulga anualmente o Censo da Educação Superior. Em 2015, no último levantamento disponível, a autarquia computava 8 milhões de alunos matriculados em cursos de graduação no Brasil.
Deste total, aproximadamente 2 milhões, ou 25%, buscavam formação acadêmica em universidades públicas. Os outros 6 milhões, ou 75%, se agarravam à oportunidade de tentar mudar sua dura realidade ao re- correrem a instituições privadas.
De 2015 para cá, esse retrato não mudou. Ainda segundo a pesquisa do instituto MDA, dos jovens que pretendem fazer um curso superior, 50,5% alegam que não possuir condições financeiras de custear seus estudos. Quase o mesmo percentual, 50,3%, afirma que só prestará vestibular com o auxílio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
O perfil da maioria dos estudantes das instituições de ensino superior particulares fica, então, claro: aluno malformado em escolas públicas, com graves deficiências de aprendizado e falta de domínio da língua portuguesa e de matemática. Também não pode pagar as mensalidades e depende de programas sociais do governo.
Diante desta cruel realidade, pergunto: é justo exigir 450 pontos no Enem de quem não tem capacidade de atingi-los, justamente porque o Estado não lhe deu condições durante o período de formação esco- lar? Ou é puni-lo duas vezes na vida? Por que não podemos reduzir gradualmente o número de pontos, conforme a demanda desses jovens e o número de vagas?
Para aqueles que conseguem vencer esta etapa e heroicamente atingem as exigências para se inscrever no Fies, começam novos desafios: correr atrás do prejuízo para sanar suas deficiências de aprendizado e conseguir acompanhar o ritmo; buscar emprego, pois ninguém consegue bolsa integral e precisa pagar parte da mensalidade; e, por último, conciliar faculdade e trabalho.
Tudo isso vale a pena? Claro, pois a conclusão do ensino superior impacta de forma decisiva no aumento de salário. Em 2014, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), 36% dos que concluíram uma graduação ganharam mais de cinco salários mínimos. Esse patamar só foi alcançado por 7% daqueles que possuem somente o ensino médio.
Esse aspecto é importante, já que, ironicamente, eles precisarão juntar recursos e ressarcir o programa de financiamento, dando oportunidade para outros alunos. JOSÉ JANGUIÊ DINIZ,
Um governo que não paga os salários da PM tem moral para exigir obediência? Policiais militares têm sido historicamente leais e disciplinados, mas para tudo há limites. Enquanto isso, o país vive um escândalo após outro, corrupção e pouco-caso tanto no nível federal quanto no estadual. A Polícia Militar merecia mais respeito (“Com PM em greve, ES tem onda de crimes”, “Cotidiano”, 7/2)!
JOÃO MANUEL MAIO
Depois que os governadores abandonaram a opção de escolher oficiais do Exército para comandar suas PMs, houve uma visível deterioração na segurança pública. Em vez de serem as PMs forças auxiliares do Exército, foi o Exército que virou força auxiliar das PMs. A União deve cumprir a Carta Magna e decretar a intervenção nos Estados em que os governadores não conseguem manter a ordem.
PAULO M. GOMES LUSTOZA
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É inconcebível que pessoas possam despejar ideias que não condizem com a vida que levam. Refiro-me ao artigo de Maria Alice Setubal, que, ao criticar o ajuste fiscal, diz que este não considera a “exclusão de milhares de pessoas” (“Oportunidades nas mãos dos novos prefeitos”, Tendências/Debates, 7/2). Como tem coragem de proferir tamanho despautério, sendo herdeira do maior conglomerado bancário do país, auferindo dividendos provenientes de juros exorbitantes e tarifas escorchantes? Ela finge que não tem culpa.
JOSÉ RONALDO CURI,
João Doria Doria faz um alarde para anunciar que vai doar o seu salário para instituições de caridade. Sugiro que todos aqueles que não precisem de seus salários doem de forma silenciosa aos que julgarem necessitados, mas fazer isso publicamente é constranger todos os que não podem fazer o mesmo. Cuide de São Paulo, prefeito, e pare de demagogia.
MARIO BRAGA