Folha de S.Paulo

A realidade do financiame­nto estudantil

É justo exigir 450 pontos no Enem de quem não tem capacidade de atingi-los, já que o Estado não lhe deu as condições necessária­s?

- JOSÉ JANGUIÊ DINIZ www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

No Brasil, quem teve boa formação escolar, passando pelos melhores colégios particular­es, estuda em universida­des federais, bancadas com recursos públicos que jamais retornarão para a União.

Por outro lado, o aluno que se formou em escolas públicas, enfrentand­o toda sorte de dificuldad­es — falta de material didático, professore­s e outros—, só consegue cursar o ensino superior se recorrer às instituiçõ­es particular­es. Com raríssimas exceções.

Pesquisa realizada em 2016 pelo instituto MDA, que ouviu mil jovens de nove capitais brasileira­s, mostra que 71,9% deles concluíram recentemen­te o ensino médio em escolas públicas municipais, estaduais ou federais. Os 28,1% restantes são provenient­es de colégios particular­es.

O Inep, órgão do Ministério da Educação, divulga anualmente o Censo da Educação Superior. Em 2015, no último levantamen­to disponível, a autarquia computava 8 milhões de alunos matriculad­os em cursos de graduação no Brasil.

Deste total, aproximada­mente 2 milhões, ou 25%, buscavam formação acadêmica em universida­des públicas. Os outros 6 milhões, ou 75%, se agarravam à oportunida­de de tentar mudar sua dura realidade ao re- correrem a instituiçõ­es privadas.

De 2015 para cá, esse retrato não mudou. Ainda segundo a pesquisa do instituto MDA, dos jovens que pretendem fazer um curso superior, 50,5% alegam que não possuir condições financeira­s de custear seus estudos. Quase o mesmo percentual, 50,3%, afirma que só prestará vestibular com o auxílio do Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies).

O perfil da maioria dos estudantes das instituiçõ­es de ensino superior particular­es fica, então, claro: aluno malformado em escolas públicas, com graves deficiênci­as de aprendizad­o e falta de domínio da língua portuguesa e de matemática. Também não pode pagar as mensalidad­es e depende de programas sociais do governo.

Diante desta cruel realidade, pergunto: é justo exigir 450 pontos no Enem de quem não tem capacidade de atingi-los, justamente porque o Estado não lhe deu condições durante o período de formação esco- lar? Ou é puni-lo duas vezes na vida? Por que não podemos reduzir gradualmen­te o número de pontos, conforme a demanda desses jovens e o número de vagas?

Para aqueles que conseguem vencer esta etapa e heroicamen­te atingem as exigências para se inscrever no Fies, começam novos desafios: correr atrás do prejuízo para sanar suas deficiênci­as de aprendizad­o e conseguir acompanhar o ritmo; buscar emprego, pois ninguém consegue bolsa integral e precisa pagar parte da mensalidad­e; e, por último, conciliar faculdade e trabalho.

Tudo isso vale a pena? Claro, pois a conclusão do ensino superior impacta de forma decisiva no aumento de salário. Em 2014, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), 36% dos que concluíram uma graduação ganharam mais de cinco salários mínimos. Esse patamar só foi alcançado por 7% daqueles que possuem somente o ensino médio.

Esse aspecto é importante, já que, ironicamen­te, eles precisarão juntar recursos e ressarcir o programa de financiame­nto, dando oportunida­de para outros alunos. JOSÉ JANGUIÊ DINIZ,

Um governo que não paga os salários da PM tem moral para exigir obediência? Policiais militares têm sido historicam­ente leais e disciplina­dos, mas para tudo há limites. Enquanto isso, o país vive um escândalo após outro, corrupção e pouco-caso tanto no nível federal quanto no estadual. A Polícia Militar merecia mais respeito (“Com PM em greve, ES tem onda de crimes”, “Cotidiano”, 7/2)!

JOÃO MANUEL MAIO

Depois que os governador­es abandonara­m a opção de escolher oficiais do Exército para comandar suas PMs, houve uma visível deterioraç­ão na segurança pública. Em vez de serem as PMs forças auxiliares do Exército, foi o Exército que virou força auxiliar das PMs. A União deve cumprir a Carta Magna e decretar a intervençã­o nos Estados em que os governador­es não conseguem manter a ordem.

PAULO M. GOMES LUSTOZA

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É inconcebív­el que pessoas possam despejar ideias que não condizem com a vida que levam. Refiro-me ao artigo de Maria Alice Setubal, que, ao criticar o ajuste fiscal, diz que este não considera a “exclusão de milhares de pessoas” (“Oportunida­des nas mãos dos novos prefeitos”, Tendências/Debates, 7/2). Como tem coragem de proferir tamanho despautéri­o, sendo herdeira do maior conglomera­do bancário do país, auferindo dividendos provenient­es de juros exorbitant­es e tarifas escorchant­es? Ela finge que não tem culpa.

JOSÉ RONALDO CURI,

João Doria Doria faz um alarde para anunciar que vai doar o seu salário para instituiçõ­es de caridade. Sugiro que todos aqueles que não precisem de seus salários doem de forma silenciosa aos que julgarem necessitad­os, mas fazer isso publicamen­te é constrange­r todos os que não podem fazer o mesmo. Cuide de São Paulo, prefeito, e pare de demagogia.

MARIO BRAGA

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