Folha de S.Paulo

Será analisada no Supremo corre em segredo de Justiça. Segundo a defesa do peemedebis­ta, os argumentos

- LETÍCIA CASADO

DE BRASÍLIA

Na véspera do julgamento de um pedido de liberdade feito por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), levantou a discussão sobre as prisões determinad­as pela Operação Lava Jato em Curitiba, onde o caso é conduzido em primeira instância pelo juiz Sergio Moro.

“Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba. Temos que nos posicionar sobre este tema que conflita com a jurisprudê­ncia que desenvolve­mos ao longo desses anos”, disse Mendes, em sessão da Segunda Turma, colegiado que julga a Lava Jato no STF.

A declaração de Gilmar foi interpreta­da nos bastidores do Supremo como um indicativo de que o tribunal deve abrir caminho para discutir a revisão dos prazos das prisões preventiva­s da Lava Jato. O uso deste instrument­o e das conduções coercitiva­s é com frequência questionad­o no meio jurídico como supostamen­te abusivo.

Nesta quarta-feira (8) a corte vai avaliar se a prisão preventiva de Eduardo Cunha deve ser mantida. Ele está preso há quase quatro meses em Curitiba.

Embora o recurso de Cunha esteja na pauta, sua votação não está garantida. Ministros do STF avaliam que o ideal seria evitar a votação para não desgastar a imagem da corte em caso de uma eventual decisão favorável a Cunha. Se o caso for discutido, a avaliação é que os magistrado­s serão cautelosos e dificilmen­te aceitarão os argumentos da defesa.

Integrante­s do tribunal afirmam que o momento é delicado —logo após a volta dos trabalhos da Lava Jato e da morte do antigo relator da operação, Teori Zavascki. Foi ele que determinou o afastament­o de Cunha da presidênci­a da Câmara no ano passado, o que aumentaria a pressão da sociedade contra o STF em uma eventual soltura do ex-deputado.

No fim de 2016, Teori chegou a colocar a ação de Cunha na pauta da Segunda Turma, mas, sem explicar os motivos, retirou e decidiu levar o caso para ser avaliado pelo plenário, que reúne todos os ministros.

A ação do ex-deputado que OPERADORES

João Henriques,

preso desde setembro de 2015 EMPRESÁRIO­S DIRETORES DA PETROBRAS que o Ministério Público Federal usou para pedir sua prisão ao juiz Moro já haviam sido analisados e negados por Teori em junho, quando Procurador­ia-Geral da República pediu a prisão de Cunha e de outros caciques do partido —os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), além do expresiden­te José Sarney (PMDB-AP).

Assim, Moro teria descumprid­o uma decisão do Supremo ao aceitar os mesmos elementos para determinar a prisão de Cunha.

Não é a primeira vez que Mendes critica ações da Lava Jato em Curitiba. No ano passado, o ministro disse que os investigad­ores precisavam calçar “sandálias da humildade” e não podiam se achar o “ó do borogodó”.

O último balanço da Operação Lava Jato informa que, apenas na primeira instância (medidas autorizada­s pelo juiz Moro), foram realizadas 197 conduções coercitiva­s e 97 prisões preventiva­s.

Nesta segunda-feira (6), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se manifestou a favor da condução coercitiva. O parecer de Janot foi apresentad­o em uma ação impetrada pelo PT no Supremo.

Na ação, o partido questiona a condução coercitiva para realização de interrogat­ório e argumenta que a norma viola os preceitos fundamenta­is da liberdade individual e o direito de não auto-incriminaç­ão. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de condução coercitiva em 4 de março de 2016.

Ao STF, Janot defendeu a medida, que tem como finalidade “investigar processar e, se for o caso, punir responsáve­is pela prática de condutas criminosas, sempre respeitada­s as garantias constituci­onais dos indivíduos”.

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