Folha de S.Paulo

Braço de construção da Odebrecht encolhe pela metade com Lava Jato

Empresa demite mais de 50% dos funcionári­os e receita tem queda de 57% em relação a 2014

- RAQUEL LANDIM

Recessão no Brasil e crises na Venezuela e em Angola e dificuldad­e de obter mais contratos são preocupaçã­o

Origem e uma das principais fontes de recursos do grupo, a Odebrecht Engenharia e Construção tem hoje menos da metade do tamanho de quando passou a ser investigad­a pela Operação Lava Jato.

A companhia demitiu mais de 50% dos 107 mil funcionári­os e seu faturament­o é estimado em US$ 6 bilhões em 2016 (R$ 18,8 bilhões), queda de 57% em relação a 2014.

Os resultados de 2016 ainda não foram fechados, mas a projeção de receita foi passada pela construtor­a a analistas e investidor­es. Nos 12 meses até setembro, dado mais recente disponível, a receita bruta ficou em US$ 10,5 bilhões (R$ 32,8 bilhões).

Com menos dinheiro entrando, a Odebrecht “queimou” US$ 2,9 bilhões (R$ 9 bilhões) do caixa para manter suas operações, já que as receitas eram insuficien­tes para pagar as despesas. O caixa da empresa hoje está em US$ 1,6 bilhão (R$ 5 bilhões).

Apesar das suas próprias dificuldad­es, a construtor­a ainda vem colaborand­o para o resgate de outras empresas do grupo em pior situação e já repassou US$ 350 milhões (R$ 1 bilhão) para a holding.

O principal problema da construtor­a é a dificuldad­e de obter novos contratos, após as descoberta­s realizadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Entre dezembro de 2014 e setembro de 2016, a carteira de obras da Odebrecht saiu do recorde de US$ 33,9 bilhões (R$ 105,7 bilhões) para US$ 21,3 bilhões (R$ 66,4 bilhões), uma queda de 37%.

Além disso, mais de 40% das obras vêm sendo executadas num ritmo muito lento, por causa da recessão no Brasil e da crise na Venezuela e em Angola —os três maiores mercados da empresa.

“A qualidade da carteira se deteriorou, porque bons projetos são finalizado­s e sobra apenas o que atrasa ou não é pago. Essa tendência é muito preocupant­e”, diz Alexandre Garcia, da Fitch Ratings.

A expectativ­a de analistas e investidor­es é que a situação comece a melhorar a partir deste ano, depois que o Grupo Odebrecht se compromete­u a pagar R$ 6,7 bilhões em multas no Brasil, nos Estados Unidos e na Suíça.

O acordo selado com as autoridade­s americanas, no entanto, revelou outros casos de corrupção em países da América Latina. O governo do Peru, por exemplo, já decidiu romper o contrato para a construção de um gasoduto. REBAIXAMEN­TO As dificuldad­es operaciona­is da Odebrecht preocupam as agências de classifica­ção de risco, que rebaixaram seus títulos de dívida.

O risco de inadimplên­cia, no entanto, não é imediato, porque a dívida de curto prazo da construtor­a é baixa —apenas US$ 210 milhões (R$ 660 milhões) vencem nos próximos 12 meses.

No total, a Odebrecht Engenharia e Construção deve US$ 3,3 bilhões (R$ 10,3 bilhões) no mercado. A maior parte são títulos emitidos por um braço financeiro do grupo, para financiar a expansão em outros negócios, mas garantidos pela construtor­a.

“A empresa não tem um risco iminente de liquidez”, diz o analista Marcos Schmidt, da Moody’s.

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