Folha de S.Paulo

Carros começam a sair do buraco

- VINICIUS TORRES FREIRE

PARECE QUE ninguém notou, mas a venda da produção nacional de veículos cresce, o que não se via desde o início da recessão, no começo de 2014.

Vendas da produção doméstica: vendas de carros nacionais mais exportaçõe­s. As vendas totais, que incluem importados, ainda caíram 5,2% em janeiro, em relação a janeiro de 2016. Mas as vendas da produção doméstica aumentaram 9,2%. Aumentam desde novembro. A produção também.

No que diz respeito à recuperaçã­o econômica, são os dados de maior interesse, no curto prazo. Lembrese que as montadoras respondem por 10% da indústria nacional. Arrastam consigo os setores de metalurgia, química, borracha etc., além de uma rede de comércio enorme.

Dado o estado fragílimo da economia, qualquer vento frio de fora ou torrentes de lama política podem jogar o paciente de novo na cama. Mas há melhoras.

Nos últimos três meses, novembro a janeiro, a venda da produção doméstica de veículos cresceu 5,4% em relação ao ano passado. Não acontecia desde fevereiro de 2014.

O copo está meio cheio ou meio vazio? Está muito vazio. Começou a encher com algumas gotas.

As vendas de veículos nacionais (no país e exportação) andam pela média trimestral de 209 mil por mês. Em janeiro de 2014, logo antes do início da recessão, eram vendidos cerca de 297 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus por mês. Baixa de uns 30%. Depressão.

Na média trimestral, a produção também cresce, 26,5% sobre o ano passado. Parece grande coisa, mas foi um progresso sobre um abismo, um nível de produção semelhante ao do breve colapso de janeiro de 2009 (crise mundial), que durou apenas três meses, ou do nível regular do distante 2004.

Em suma, escalamos dois degraus em um fundo de poço abissal. Vai durar?

As montadoras preveem alta de 11,9% na produção deste ano. Também estavam otimistas no início de 2016. Infelizmen­te, erraram muito.

As possíveis diferenças de 2017 são, como se sabe, a baixa das taxas de juros, o fim do processo de redução brutal de crédito que se viu em 2016 e, mais incerto, modesta alta do total dos rendimento­s do trabalho (que caiu 3,5% em 2016).

O total de empréstimo­s novos para a compra de veículos continuava a cair até dezembro, dado mais recente disponível. Cai mais devagar, despiora, mas ainda a um ritmo de 16% ao ano (comparadas as médias trimestrai­s, em termos reais). Em dezembro de 2015, baixava no passo de 36%.

A taxa média de juros para a compra de veículos está em 25,7% ao ano (para pessoas físicas). Baixou um tico desde o pico recente de fevereiro de 2016 (27,6%). Em janeiro de 2014, era de 22,7%. No meio do boom de venda e da farra final de crédito, baixara a 19,5%, em junho de 2013, mês do começo do fim de tanta coisa.

A produção de máquinas agrícolas e rodoviária­s, a situação é muito melhor, como se sabe, graças à grande recuperaçã­o da agropecuár­ia nesta virada de 2016 para 2017. Nos últimos 12 meses, as fábricas ultrapassa­ram a produção dos 12 meses anteriores (no caso dos veículos, ainda baixa). O negócio de tratores e colheitade­iras, porém, é muito menor que o de veículos.

Por ora, se acendeu uma vela no fosso das montadoras, de qualquer modo.

Somados veículos nacionais e exportaçõe­s, vendas crescem pela primeira vez desde o início da recessão

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