Consumidor pode reassumir controle sobre seus dados
Próxima revolução tecnológica pode dar mais força para garantir a privacidade e a segurança de usuários de aparelhos conectados
O assunto principal na Consumer Electronics Show (CES) de Las Vegas, no mês passado, era a conectividade e o aprendizado mecânico.
Por algum motivo, os engenheiros do planeta pareciam estranhamente compelidos a transformar todos os produtos cotidianos —de carros e escovas de dentes a sapatos e chuveiros— em aparelhos inteligentes e conectados.
Isso pode ajudar em nossa rotina de higiene dentária e nos exercícios. Mas beneficiará muito a economia?
O efeito primário desses produtos de tecnologia voltados ao consumidor parece limitado, mas precisaremos prestar atenção cada vez maior às consequências secundárias desses dispositivos.
Eles são apenas a mais visível manifestação de uma transformação que deve influenciar nossas sociedades de maneira muito mais intensa do que “brexit”, Donald Trump ou disputas territoriais no mar do Sul da China.
Essa transformação tem a ver com quem recolhe, controla e usa dados.
Alguns comentaristas sugeriram que essa transformação é tão profunda que estamos caminhando de uma era de capitalismo financeiro para uma de capitalismo de dados.
A velocidade e a escala do avanço dessa revolução dos dados são certamente espantosa. Às vezes, gostamos de imaginar que a internet gira em torno da troca de pensamentos entre pessoas. Mas gira muito mais em torno da troca de dados entre máquinas.
A consultoria Gartner estima que o total de aparelhos conectados on-line triplicará, para 20,8 bilhões, em 2020, à medida que a “internet das coisas” se torna realidade.
Para ver o efeito que o uso de dados pode ter, basta considerar o setor de publicidade. Facebook e Google abocanharam 85% das verbas de publicidade digital nos EUA, no primeiro trimestre de 2016.
Seu sucesso se baseia em sua capacidade de usar dados para direcionar publicidade aos consumidores ideais.
Essa transformação promete grandes benefícios aos consumidores, mas a proliferação no uso de dados também desperta preocupações quanto a segurança de identidade e privacidade.
Para Nigel Shadbolt, cofundador do Open Data Institute, ainda é cedo demais para que desistamos da privacidade, apesar das gritantes assimetrias entre os indivíduos que geram dados e as gigantescas empresas que os controlam e exploram. A tecnologia que erodiu a privacidade também pode reforçá-la.
A próxima revolução, ele argumenta, envolverá conferir aos consumidores mais controle sobre os seus dados. Considerando os avanços de poder de processamento e de memória dos smartphones, ele acredita que novos modelos de coleta de dados, mais localizados, possam em breve ganhar força.
Segundo essa visão, poderemos usar dados para criar um mundo muito mais inteligente mas sem sacrificar direitos preciosos. Se acreditamos realmente em um futuro assim benigno, precisamos correr e inventá-lo. PAULO MIGLIACCI