Folha de S.Paulo

Com onda de crimes, moradores do ES fazem pressão por volta de PMs

Manifestan­tes gritavam contra parentes de policiais paralisado­s e atearam fogo em pneus

- CAROLINA LINHARES

Mesmo com Força Nacional e Exército nas ruas, Estado teve dia violento; já são 75 mortos, diz sindicato COLABORAÇíO PARA A EM VITÓRIA

FOLHA,

Cinco dias após a onda de violência que resultou em dezenas de mortes, saques e mudanças no cotidiano dos moradores da Grande Vitória, um contramovi­mento ganhou força nesta terça (7) exigindo a volta dos policiais às ruas das cidades capixabas.

Em frente ao Comando-Geral da PM em Vitória, moradores que pediam a volta do policiamen­to discutiram com parentes dos PMs. Conflito semelhante foi registrado em Guarapari, no litoral. “Polícia, cadê você, vim aqui só pra te ver”, gritavam os manifestan­tes. Do outro lado, familiares e policiais à paisana respondiam: “Cadê o governador?”.

Houve tentativa de diálogo entre mulheres de ambos os lados, mas a tensão cresceu quando os manifestan­tes contrários à paralisaçã­o atearam fogo em pneus, bloqueando uma avenida. Por volta das 17h30, centenas de pessoas se aglomerava­m dos dois lados. Para conter o tumulto, militares usaram gás lacrimogên­eo.

A tensão continuava à noite —uma caçamba foi incendiada em frente ao ComandoGer­al, próximo dos militares.

Nesta terça, segundo o governo do Estado, havia 80 homens da Força Nacional nas ruas e outros 120 chegariam à noite para atuar na contenção da onda de violência que deixou 75 mortos desde sexta (3), segundo o Sindicato dos Policiais Civis. O Estado não confirma o total de mortes.

Outros 500 policiais estavam nas ruas, ante um efetivo normal de 2.000 homens. A previsão da PM é que o número cresça nesta quarta (8).

“Duas lojas da rede em que trabalho foram saqueadas, além de lojas de amigos que foram roubadas. Concordo com o aumento do salário, mas não com a forma [paralisaçã­o], que prejudica a população”, disse Geane Lopes da Silva, gerente de loja.

Apesar da presença da Força Nacional e do Exército, o Estado teve mais um dia violento. Um policial civil morreu numa troca de tiros em um assalto em Colatina, um ônibus foi atingido por um disparo, houve tiroteio no bairro Santa Rita, em Vila Velha, e em Serra, um condomínio de prédios foi invadido.

Desde sexta, familiares fazem manifestaç­ões em frente a batalhões. Como PMs são proibidos de realizar greves pela Constituiç­ão, parentes assumem a frente do movimento, que reivindica reajuste salarial de 65% até 2020.

As famílias reclamam que o secretário de Segurança, André Garcia, só aceita conversar se o policiamen­to for normalizad­o. “Se o movimento acabar, ele não vai procurar a gente”, diz uma das mulheres, que não quis se identifica­r. O secretário, por sua vez, diz que tenta o diálogo.

À tarde, o comandante-geral da PM, Nylton Rodrigues, recebeu representa­ntes das famílias para agendar reunião com o Estado na sexta (10).

Ele se compromete­u a não punir os policiais, desde que as unidades fossem liberadas nesta terça. As mulheres do movimento decidiram manter os acampament­os.

De manhã, familiares de vítimas de homicídios lotavam o DML (Departamen­to de Medicina Legal) em Vitória. Fernando Cândido procurava um primo que não sabia se estava vivo após um linchament­o —teria roubado um celular. “Ficamos sabendo por um vídeo no WhatsApp.”

Policiais do departamen­to de homicídios relataram que a maioria dos mortos tinha sinais de execução, com tiros na cabeça, no peito e nas costas.

Apesar das escolas e postos de saúde fechados, alguns comerciant­es abriram as portas e uma frota reduzida de ônibus circulou em Vitória. Nesta quarta, a previsão é que a Grande Vitória fique sem transporte coletivo.

Segundo a Secretaria de Segurança, batalhões de Vila Velha, Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus retomaram o trabalho. Policiais ouvidos pela reportagem, no entanto, dizem que há uma tentativa de retomar o policiamen­to e poucas viaturas saíram às ruas.

O secretário da Segurança, André Garcia, disse que o governo enfrenta um caso “claro” de chantagem que, segundo ele, começou a ser revertido com a chegada da Força Nacional e do Exército.

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Fotos Joel Silva/Folhapress Manifestan­tes ateiam fogo a pneus e bloqueiam avenida em Vitória em frente a batalhão da Polícia Militar para pedir o retorno do policiamen­to nas ruas
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Militar faz policiamen­to nas ruas de Vitória nesta terça (7)
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Paulo Whitaker/Reuters Atendiment­o em farmácia de Cachoeiro de Itapemirim (ES)

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