Com onda de crimes, moradores do ES fazem pressão por volta de PMs
Manifestantes gritavam contra parentes de policiais paralisados e atearam fogo em pneus
Mesmo com Força Nacional e Exército nas ruas, Estado teve dia violento; já são 75 mortos, diz sindicato COLABORAÇÃO PARA A EM VITÓRIA
FOLHA,
Cinco dias após a onda de violência que resultou em dezenas de mortes, saques e mudanças no cotidiano dos moradores da Grande Vitória, um contramovimento ganhou força nesta terça (7) exigindo a volta dos policiais às ruas das cidades capixabas.
Em frente ao Comando-Geral da PM em Vitória, moradores que pediam a volta do policiamento discutiram com parentes dos PMs. Conflito semelhante foi registrado em Guarapari, no litoral. “Polícia, cadê você, vim aqui só pra te ver”, gritavam os manifestantes. Do outro lado, familiares e policiais à paisana respondiam: “Cadê o governador?”.
Houve tentativa de diálogo entre mulheres de ambos os lados, mas a tensão cresceu quando os manifestantes contrários à paralisação atearam fogo em pneus, bloqueando uma avenida. Por volta das 17h30, centenas de pessoas se aglomeravam dos dois lados. Para conter o tumulto, militares usaram gás lacrimogêneo.
A tensão continuava à noite —uma caçamba foi incendiada em frente ao ComandoGeral, próximo dos militares.
Nesta terça, segundo o governo do Estado, havia 80 homens da Força Nacional nas ruas e outros 120 chegariam à noite para atuar na contenção da onda de violência que deixou 75 mortos desde sexta (3), segundo o Sindicato dos Policiais Civis. O Estado não confirma o total de mortes.
Outros 500 policiais estavam nas ruas, ante um efetivo normal de 2.000 homens. A previsão da PM é que o número cresça nesta quarta (8).
“Duas lojas da rede em que trabalho foram saqueadas, além de lojas de amigos que foram roubadas. Concordo com o aumento do salário, mas não com a forma [paralisação], que prejudica a população”, disse Geane Lopes da Silva, gerente de loja.
Apesar da presença da Força Nacional e do Exército, o Estado teve mais um dia violento. Um policial civil morreu numa troca de tiros em um assalto em Colatina, um ônibus foi atingido por um disparo, houve tiroteio no bairro Santa Rita, em Vila Velha, e em Serra, um condomínio de prédios foi invadido.
Desde sexta, familiares fazem manifestações em frente a batalhões. Como PMs são proibidos de realizar greves pela Constituição, parentes assumem a frente do movimento, que reivindica reajuste salarial de 65% até 2020.
As famílias reclamam que o secretário de Segurança, André Garcia, só aceita conversar se o policiamento for normalizado. “Se o movimento acabar, ele não vai procurar a gente”, diz uma das mulheres, que não quis se identificar. O secretário, por sua vez, diz que tenta o diálogo.
À tarde, o comandante-geral da PM, Nylton Rodrigues, recebeu representantes das famílias para agendar reunião com o Estado na sexta (10).
Ele se comprometeu a não punir os policiais, desde que as unidades fossem liberadas nesta terça. As mulheres do movimento decidiram manter os acampamentos.
De manhã, familiares de vítimas de homicídios lotavam o DML (Departamento de Medicina Legal) em Vitória. Fernando Cândido procurava um primo que não sabia se estava vivo após um linchamento —teria roubado um celular. “Ficamos sabendo por um vídeo no WhatsApp.”
Policiais do departamento de homicídios relataram que a maioria dos mortos tinha sinais de execução, com tiros na cabeça, no peito e nas costas.
Apesar das escolas e postos de saúde fechados, alguns comerciantes abriram as portas e uma frota reduzida de ônibus circulou em Vitória. Nesta quarta, a previsão é que a Grande Vitória fique sem transporte coletivo.
Segundo a Secretaria de Segurança, batalhões de Vila Velha, Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus retomaram o trabalho. Policiais ouvidos pela reportagem, no entanto, dizem que há uma tentativa de retomar o policiamento e poucas viaturas saíram às ruas.
O secretário da Segurança, André Garcia, disse que o governo enfrenta um caso “claro” de chantagem que, segundo ele, começou a ser revertido com a chegada da Força Nacional e do Exército.