Folha de S.Paulo

‘Marias’ fazem a linha de frente do movimento

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DA ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA

De repente, começa uma correria de mulheres —Marias, como cada uma delas se identifico­u à Folha — em frente ao Batalhão de Missões Especiais em Vitória (ES). “Vão pular o muro!”

Algumas delas correm pelo lado de fora até outro ponto do batalhão. Observam atentas a qualquer tentativa de saída dos policiais militares do prédio.

Boa parte deles, na verdade, assiste ao movimento de familiares do outro lado da rua, à paisana, para dar “segurança” ao grupo.

Na tarde desta terça-feira (7), eram cerca de 20 as mulheres, com quatro crianças, em frente ao portão do batalhão em Vitória.

Após a correria, nova confusão: um homem passa de carro, abre a porta e diz: “Gente, precisa de mulher do outro lado, entra aí”. O homem, segundo as Marias, faz parte de uma associação de militares. Os grupos, responsabi­lizadas pela falta de policiamen­to em decisão da Justiça do ES, afirmam não ter relação com o movimento.

“Elas estão bravas com as associaçõe­s porque nós negociamos com o governo, mas entendíamo­s o lado deles, da necessidad­e de ajuste”, disse o major Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do ES.

Mulheres de soldados e policiais relatam o mesmo cenário de sucateamen­to da PM. Além do reajuste salarial, reclamam da escassez de coletes, de munição e até de combustíve­l.

“A gente não tem plano de saúde, o Hospital Militar está a ponto de fechar”, disse uma delas. Na 5ª Companhia do 1º Batalhão, um PM desabafa: “Nós não temos voz, ninguém dá amparo”.

“Guerreiras da PM, qual é sua missão? Defender a polícia e fechar o batalhão”, cantam as Marias em meio a um buzinaço.

O movimento começou no sábado (4) com sete mulheres na porta de uma unidade da PM em Serra, na região metropolit­ana. Com o WhatsApp e outras redes sociais praticamen­te todas as unidades das principais cidades do Estado passaram a ter acampament­os.

As mulheres se revezam e recebem doações. Sem liderança clara, nenhuma fala em parar o movimento. “A população está sentindo o segundo dia útil sem policiamen­to, mas eles têm que entender que eu tenho família”, diz uma Maria.

No Rio, o comando da Polícia Militar fez um apelo para que não haja uma paralisaçã­o nos moldes da capixaba. Grupos em redes sociais convocam parentes de PMs para uma mobilizaçã­o na próxima sexta (10).

LUCAS VETTORAZZO NICOLA PAMPLONA,

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