Folha de S.Paulo

Sem carta branca

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Sob ataques públicos do presidente Donald Trump, uma corte de apelação ratificou, nesta quinta-feira (9), a decisão que suspende a proibição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países de maioria muçulmana.

No entendimen­to unânime de três juízes —um deles indicado por presidente republican­o—, não há evidência de que algum cidadão das nações vetadas (Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão e Síria) “tenha perpetrado um ataque terrorista nos EUA”.

Em outro trecho, a sentença afirma que o argumento segundo o qual decretos presidenci­ais sobre imigração estão isentos de escrutínio judicial “vai de encontro à estrutura fundamenta­l da nossa democracia constituci­onal”.

Assinado em 27 de janeiro, o decreto que impôs restrições à entrada de refugiados, turistas e imigrantes constitui a decisão mais controvers­a tomada até agora pelo governo Trump.

Em meio ao caos instalado nos aeroportos e protestos dentro e fora dos EUA, cerca de 60 mil vistos foram temporaria­mente cancelados, atingindo de estudantes a residentes permanente­s.

Os reveses sucessivos na Justiça não inspiraram o republican­o a adotar um tom mais moderado ou conciliado­r sobre o tema. Pelo contrário: ele chamou a decisão de “política” e “vergonhosa”; prometeu, em mensagem publicada em rede social, escrita com letras maiúsculas, recorrer à Suprema Corte.

Um dia antes, já havia criticado a audiência prévia que embasaria o julgamento e reclamado da suposta politizaçã­o dos tribunais.

Embora não haja decisão definitiva, a Judiciário mostra até aqui a esperada altivez diante do assédio desproposi­tado do chefe do Executivo. Mesmo o juiz recém-indicado para a Suprema Corte, Neil Gorsuch, disse que os ataques do presidente são “desoladore­s”.

Na argumentaç­ão da Casa Branca, os juízes põem o país em risco e decidem sem ter acesso aos dados sigilosos referentes a ameaças advindas do terrorismo. A Constituiç­ão americana, ademais, confere ao presidente autoridade para tratar de imigração.

Como entendeu a Justiça, medidas tão traumática­s não podem ser editadas sem ao menos justificat­iva compreensí­vel para sua urgência. Em países de instituiçõ­es sólidas, a vitória eleitoral não significa carta branca para governar.

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