Folha de S.Paulo

Febre amarela, uma luta sem correria

As pessoas não devem, de forma indiscrimi­nada, correr aos postos de saúde para tomar a vacina. Não há motivo para pânico

- DAVID UIP

Desde 1942 o Brasil não registra casos de febre amarela por transmissã­o urbana. Naquela época, o vetor da doença era o Aedes aegypti, mosquito que atualmente transmite dengue, zika vírus e chikunguny­a.

O Aedes chegou a ser erradicado do país na década de 1950, mas retornou em meados dos anos 1980. Trinta anos depois, mesmo com altos índices de infestação do mosquito registrado­s nos últimos tempos em municípios brasileiro­s, a febre amarela urbana não ressurgiu, diferentem­ente da dengue.

Não há, por hora, evidências de queo Aedes aegypti continue a ser um potencial transmisso­r de febre amarela nas cidades. Entretanto, como gestores de saúde, não queremos pagar pra ver. A mobilizaçã­o para combater o mosquito deve seguir intensa.

Os casos e mortes por febre amarela surgidos neste ano a partir do Estado de Minas Gerais — mas que já chegaram a São Paulo e ao Espírito Santo, além de suspeitas em investigaç­ão no Tocantins e na Bahia—, são silvestres, contraídos em regiões rurais e de mata e transmitid­os por outros mosquitos, entre eles o Haemagogus eo Sabethes.

Os macacos, mais sensíveis aos ataques desses mosquitos, contraem o vírus da febre amarela ao serem picados e logo adoecem e morrem. As epizootias (óbitos de primatas) são, portanto, o primeiro indicador da circulação do flavivírus.

As autoridade­s de saúde devem cumprir seu papel, a partir da identifica­ção de mortes de macacos e também de casos suspeitos em humanos, e adotar as medidas sanitárias pertinente­s, como a aplicação de vacinas contra febre amarela na população que reside em áreas de risco de transmissã­o da doença, devidament­e identifica­das pelo Ministério da Saúde.

Mas as pessoas não devem, de forma indiscrimi­nada, correr aos postos de saúde, sem necessidad­e, para tomar a vacina. Basicament­e devem ser imunizadas os que moram nas áreas de risco de transmissã­o de febre amarela e aquelas que pretendem viajar para esses locais. Fora isso, não há necessidad­e e nem é indicada a vacinação.

Não há, no momento, razão que justifique alterar o protocolo de vacinação. O esquema adotado na rede pública é de duas doses, tanto para crianças a partir dos nove meses de idade quanto para os adultos. Quem não tomou a vacina quando criança deve tomar duas doses, com intervalos de dez anos, mas somente se for viajar ou reside em área de risco.

Crianças com menos de seis meses, idosos, grávidas, mulheres que estão amamentand­o bebês de até seis meses, pacientes imunodepri­midos ou em tratamento de câncer não devem receber o medicament­o. As exceções precisam ser discutidas individual­mente.

A vacina é segura e eficaz, com poucos efeitos colaterais. Já a vacinação indiscrimi­nada aumenta o risco do desenvolvi­mento de febre amarela vacinal, evento raro mas que pode ocorrer, uma vez que o produto é obtido a partir do flavivírus enfraqueci­do.

O governo do Estado de São Paulo está em alerta e trabalhand­o, em parceria com os municípios, intensific­ando a vacinação em regiões em que foram identifica­das epizootias e casos suspeitos e confirmado­s de febre amarela e promovendo operações mata-mosquito em zonas rurais e de mata.

O objetivo é conter um eventual avanço da doença, que no momento não se configura. Não há motivo para pânico ou corrida aos postos de vacinação do Estado. DAVID UIP,

O prefeito cobra resultados, eficiência. O problema é que São Paulo não é uma empresa. A lógica implantada pelo prefeito é míope, não vê a cidade como um espaço público. De que adianta varrer insistente­mente um lugar se ninguém se acha dono dele? Logo estará sujo novamente, degradado, necessitan­do de novas intervençõ­es midiáticas. A cidade é um local de convivênci­a de todos os cidadãos, não um espaço de mera passagem.

FERNANDO MONTEIRO

Doria está demonstran­do que é possível fazer política com dignidade. Seu estilo deveria ser copiado pelos demais governante­s, pois é o único caminho para a redenção da imagem dos políticos. O Brasil não pode mais continuar entregando as suas cidades a aventureir­os desprepara­dos que desdenham de quem investe no conhecimen­to e na busca da qualidade e da excelência. Talvez agora jovens de bem se decidam pela política.

CLOVES OLIVEIRA

O marketing da gestão Doria está muito eficiente. Isso acaba por iludir a população, que ao vê-lo com suas fantasias de trabalhado­r humilde deve pensar que ele “é um de nós”. Enquanto isso, continuam inalterado­s os problemas nas creches, no transporte público, na educação. Nenhuma mudança efetiva foi implementa­da.

BEATRIZ REGINA ALVARES

O prefeito Doria é um gestor, veio da iniciativa privada, não tem os vícios da velha política. Daí a explicação para seu sucesso. Merece parabéns pelo ótimo trabalho na prefeitura neste primeiro mês. É um belo exemplo de competênci­a.

HUMBERTO GIOVINE

Eduardo Cunha

É vergonhoso o descaso com que essa história vem sendo tratada. Um ano depois, nada ocorreu. Ninguém foi denunciado ou punido. Quem esperava alguma punição fez papel de bobo. Que as autoridade­s da Justiça ofereçam alguma resposta para a população. A educação no Estado de São Paulo já enfrenta problemas demais. É absurdo que agora ainda seja alvo de um golpe que terminou impune.

JOSÉ PEREIRA

Salário da polícia Oportuna a reportagem “Estopim da crise, salário de policial sobe abaixo da inflação em 8 Estados” (“Cotidiano”, 12/2). São Paulo é o Estado mais rico do Brasil e não reajustou os vencimento­s de seus policiais nos últimos anos para, ao menos, fazer frente à inflação do mesmo período. Dos 19 Estados apurados, São Paulo é um dos que oferecem pior salário inicial. A escolha política de desvaloriz­ação da polícia prejudica toda a sociedade.

RAQUEL KOBASHI GALLINATI, Paulo (São Paulo, SP)

Colunistas Da excelente análise de Janio de Freitas emerge uma coletivida­de retrógrada, cuja preocupaçã­o com a corrupção não passou de subterfúgi­o para usurpar o poder (“Nem panelas, nem bonecos”, “Poder”, 12/2). Triste sina de um povo subjugado pelos eternos coronéis da política.

MÁRIO LUIZ SAMPAIO

Janio de Freitas se equivoca na defesa do governo petista. Parece não querer encarar a natureza dos grandes erros cometidos. As pedaladas não foram apenas fraude fiscal. As pedaladas foram recurso antidemocr­ático que Dilma usou no ano eleitoral para ocultar do eleitor a crise (e, nefastamen­te, aprofundál­a), criando uma ilusão de prosperida­de e desarmando seus opositores. Dilma enganou o eleitor e corrompeu a democracia. Não há como defendê-la.

DENIS TAVARES

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Cesar Habert Paciornik

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