Folha de S.Paulo

Mais que prisões, inovação institucio­nal

Neste momento de crise, são fundamenta­is reformas para dar transparên­cia e maior acesso ao mercado de capitais públicos para investimen­to

- MARIA VIRGINIA MESQUITA www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

No dia 30 de janeiro, a Caixa Econômica Federal publicou um edital de chamada pública para seleção de projetos no setor de infraestru­tura candidatos a receber apoio financeiro do FI-FGTS.

Há R$ 7 bilhões para investimen­to nos projetos selecionad­os, os mesmos bilhões que alguns jornais anunciaram, meses atrás, estarem parados, esperando uma destinação produtiva, nos cofres da Caixa.

A chamada pública é uma novidade em relação ao modo como o FIFGTS fez investimen­tos no passado. Agora, a seleção de projetos é iniciada por meio de um convite público, disponibil­izado na internet, com clara exposição de seus critérios.

O documento traz de forma clara como serão classifica­dos os projetos candidatos ao investimen­to, indicando pontuações diferencia­das para cada requisito —setor a ser beneficiad­o (sendo o de saneamento o de maior pontuação), geração de empregos, governança da empresa que o apresenta etc.

A inovação parece ser uma resposta ao escândalo de corrupção envolvendo o pagamento de vantagens ilícitas a um ex-executivo da Caixa em troca de sua influência na aprovação de investimen­tos pelo FIFGTS. A descoberta do esquema é fruto de uma das delações feitas na Operação Lava Jato.

Com maior transparên­cia, espera-se que o processo de seleção seja baseado apenas em critérios objetivos, não mais com base no pagamento de propinas ou nas relações de reciprocid­ade entre quem pede e quem tem o poder de aprovar os investimen­tos do governo.

Além disso, a transparên­cia permite que a sociedade controle, previament­e, as prioridade­s eleitas por quem decide como alocar os capitais públicos de investimen­to.

Essas medidas são fundamenta­is para coibir a corrupção. Sem elas, o controle apenas punitivo não traz grandes transforma­ções. A teoria da pena ensina, dizem os entendidos, que, no combate à corrupção e a outros crimes econômicos, a pena deve ser razoável, proporcion­al e dissuasóri­a.

O indivíduo responde a incentivos e cabe à lei fazer com que a pena anule os estímulos de praticar o delito.

Isto é certo, mas é também verdade que, em crimes envolvendo a administra­ção pública, se as estruturas são tais que aquele que não está disposto a praticar o delito fica “fora do jogo” ou pode ser destruído por uma autoridade que lhe achaca, apenas aumentar a pena e manter essas estruturas corrompida­s do lado de dentro da administra­ção pública pode gerar dois resultados: a paralisia dos negócios ou a seleção adversa.

Só permanecer­ão nessas negociaçõe­s aqueles com enorme apetite para o risco e para jogar com as regras do jogo espúrio. Nenhum deles, como se vê, é positivo.

Por isso, a medida do FI-FGTS, bem menos espetacula­r e glamorosa que as prisões vistas nos últimos tempos, vem em boa hora. Aprisionar muitos empresário­s e alguns políticos não resolverá, por si só, o problema da corrupção.

São fundamenta­is, ao lado de medidas repressiva­s proporcion­ais, reformas voltadas a dar transparên­cia e maior acesso ao mercado de capitais públicos para investimen­to, bem como a qualquer processo de interação entre governo e empresas.

Não se pode negar o valor dos esforços repressivo­s de combate à corrupção. Mas o que precisamos agora, e com urgência, é de menos prisões e mais inovação institucio­nal. MARIA VIRGINIA MESQUITA,

O ex-deputado Eduardo Cunha questiona o presidente Temer sobre possíveis fatos e acaba sendo criticado por Moro. Parece muito estranha essa história (“Cunha quis constrange­r e intimidar Temer com perguntas, diz Moro”, www.folha.com/ no1857952). Será que realmente existe imparciali­dade na condução desse processo? Ou estarão tentando blindar Temer?

FLAVIO MATOS PETROLI

A parcialida­de de Moro fica cada vez mais clara. Ora, se o interesse é combater a corrupção, por que proteger Temer? Por que não investigar as informaçõe­s de Eduardo Cunha, alguém que conhece a fundo como funcionam as engrenagen­s do poder?

GABRIEL BRAGA

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Ótima a reflexão de Angela Alonso (“Aqueles Abraços”, “Ilustríssi­ma”, 12/2). Civilidade é o que o Brasil mais necessita neste momento. É assustador perceber que o sentimento de intolerânc­ia permeia a sociedade brasileira em todos os seus níveis.

ENNES CABRAL PAUBEL

Trump Até que ponto vai a impulsivid­ade do presidente americano? Passa como um trator por cima de seu staff, não consulta o Congresso, desqualifi­ca a imprensa e o Judiciário. Trump parece uma criança mimada fazendo travessura­s (“Analistas veem risco em Trump ‘tuiteiro’”, “Mundo”, 12/2). É preciso que as instituiçõ­es coloquem limite a seus perigosos caprichos.

ÂNGELA BONACCI

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