Folha de S.Paulo

Marcelo Odebrecht enfrenta mágoa de antigos colegas

Ex-executivos atribuem a herdeiro do grupo a inclusão de seus nomes na Lava Jato e dizem que só cumpriam ordens

- BELA MEGALE

A pessoas próximas eles costumam dizer que o ‘capitão do navio’ foi o primeiro a abandonar o barco

Desde que firmou acordo de delação premiada, Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba, tornou-se alvo de mágoa da maioria dos 77 delatores da empresa que presidiu.

O herdeiro do grupo baiano vive uma espécie de isolamento. Segundo a Folha apurou, muitos dos demais delatores atribuem a Marcelo a inclusão de seus nomes na Lava Jato.

Em conversas reservadas, executivos e ex-executivos alegam que somente cumpriam ordens dele sobre decisões envolvendo pagamentos de vantagens a políticos.

Em entrevista­s a procurador­es da Lava Jato na negociação da delação, o herdeiro da Odebrecht, no entanto, dividiu a autoria desses atos com subordinad­os.

O cenário prejudicou o processo de sucessão de postos de liderança do grupo. Marcelo arrastou para o acordo de delação executivos que vinham sendo preparados para assumir posições de destaque no futuro.

Entre eles estão Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Paulo Cesena, ex-presidente da Odebrecht Transport, Ernesto Baiardi, diretor em Angola, e Carlos Fadigas, ex-presidente da Braskem.

Com carreiras interrompi­das e reclusão de até um ano, os executivos não escondem de interlocut­ores a insatisfaç­ão com o herdeiro, que pegou pena de dez anos, sendo dois e meio em regime fechado.

Funcionári­os que foram alvos de operação e chegaram a ser presos, como Márcio Faria, ex-diretor da construtor­a, e Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestru­tura, também colocam na conta de Marcelo o tamanho das penas que levaram. ABANDONAR O BARCO A pessoas próximas eles costumam dizer que o capitão do navio, numa alusão a Marcelo, teria que ser o último a abandonar o barco, mas foi um dos primeiros.

A versão de Marcelo Odebrecht é diferente. Nas tratativas do acordo, repetia que assumiria os atos que praticou, mas que cada um teria que responder pelo que fez.

Faria e Júnior, por exemplo, relataram casos de pagamento ilícito feitos antes de Marcelo assumir a presidênci­a do grupo, em 2009.

Cezena, Reis, Fadigas e Baiardi fazem parte dos 26 funcionári­os mantidos no grupo, apesar de terem funções reduzidas devido aos acordos que assinaram com o Ministério Público Federal.

Faria e Júnior são parte dos 51 executivos que foram ou serão demitidos do grupo. O número de empregados que teriam que ser desligados foi negociado com os procurador­es na delação.

O grupo vai pagar as multas impostas aos delatores, de mais de R$ 500 milhões, conforme a Folha revelou.

A Folha apurou que pelo menos dez executivos da Odebrecht que antes integraria­m o acordo de leniência (delação da pessoa jurídica) tive- ram que se tornar delatores por imposição do MPF devido às revelações de Marcelo.

A situação considerad­a mais delicada é a do pai dele, Emílio, sócio majoritári­o do grupo. Marcelo falou aos procurador­es que assuntos tratados com o ex-presidente Lula tinham que ser perguntado­s ao pai. A relação de pai e filho se desgastou no processo.

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Paulo Lisboa - 1.fev.2016/Brazil Photo Press/Folhapress Marcelo Odebrecht, ao chegar para depoimento na sede da Justiça Federal do Paraná

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