Dissidência de guerrilheiros preocupa governo
Folha ,portelefone,umdosrepresentantes da frente antes instalada no Valle del Cauca, que não quis se identificar.
“Já estão praticamente todos reunidos”, disse, no meio da semana passada, um dos líderes da negociação de paz, Sergio Jaramillo, referindo-se aos 6.300 guerrilheiros instalados nos alojamentos.
As zonas foram escolhidas por serem distantes de grandescentrosurbanos.Oacesso não foi fácil —vários veículos atolaram no barro e algumas instalações não ficaram prontas a tempo.
“Para demonstrar boa vontade, estamos ajudando o governo a terminar o que não ficou pronto”, disse um dos líderes das Farc, Iván Márquez.
As dificuldades atrasaram a chegada a esses locais — que, prevista para o dia 31, só acabaria neste domingo (12).
Os territórios em que terão de viver nos próximos quatro meses têm 15 km² cada um, e contêm o básico: dormitórios,cozinha,águaeesgotoe uma área comum. Ao entrar, os guerrilheiros registraram as armas e identificaram-se. Até o fim do período, só poderão sair da zona com autorização e desarmados.
O perímetro de cada zona é vigiado pelas Forças Armadas, sob monitoria da ONU. A ideia é proteger os guerrilheiros de seus antigos inimigos.
O próximo passo é que entreguem as armas, em três fases. Também durante o período será definido seu futuro imediato: quais terão direito à anistia e quais vão enfrentar julgamento por meio da Justiça Transicional —tribunal especial aprovado no acordo.
Relatosdosqueestãonos acampamentos dão conta de que os guerrilheiros têm cotidiano regrado. Acordam cedo, realizam tarefas comunitárias e workshops de política e com instruções sobre como gastar o benefício mensal que receberão do governo (90% de um salário mínimo) e como procurar trabalho ou vagas em escolas e universidades.
Enquanto isso, a cúpula das Farc estuda a estratégia para participar das eleições legislativas de 2018. Dependendo da região, a guerrilha tem entre 6% e 18% de popularidade.
DE BUENOS AIRES
Nemtudo,porém,éfesta no andamento do acordo de paz. E para entender isso, basta olhar os números. Estima-se que as Farc tenham entre 7 e 8 mil membros.Portanto, aconta, considerando os que se apresentaram até agora, não fecha.
Parte destes ausentes são dissidentes já declarados, a outra, de acordo com estimativas, envolve indecisos.
Já houve uma leva que, em julho de 2016, havia decidido que não tomaria parte no acordo. Foram os membros da Frente Primeira, uma das mais antigas.
Além disso, entre o plebiscito de 2 de outubro, em que a população disse “não” ao tratado, e a redação e aprovação de um novo acordo, por meio do Congresso,quesedeuapenas em dezembro, mais guerrilheiros desanimaram e desistiram do esforço.
Foi então que cinco representantes de médio e alto comando anunciaram sua deserção, levando consigo entre 80 e 300 guerrilheiros, segundo estimativas oficiais.
Não se sabe ao certo se esses desertores irão formar uma nova agrupação ou juntar-se a outras guerrilhas e facções criminosas. O comando das Farc anunciou que estão banidos e proibidos de usar o nome da guerrilha em suas futuras atividades.
A dissidência, porém, preocupa o presidente e Nobel da Paz Juan Manuel Santos,queporcontadisso acelerou o início das negociações de paz com o ELN (Exército de Libertação Nacional), a segunda maior guerrilha do país.
As conversas com o grupo, também em conflito com o Estado há mais de 50 anos, começaram na semana passada, em Quito, capital do Equador.
E a preocupação não é apenas do governo colombiano, mas também de países vizinhos.
Afinal, os dissidentes das Farc pertencem a frentes que costumavam atuar em zonas fronteiriças com a Venezuela e o Brasil e estavam vinculadas ao narcotráfico na região.
Estima-se que não tenham querido abandonar essa atividade lucrativa em troca de um benefício mensal tão baixo quanto o oferecido no acordo. Ou que não esperavam ser anistiados por terem cometido crimes demasiado graves.
(SC)