Folha de S.Paulo

MINHA HISTÓRIA NA PONTA DOS PÉS

Aos 11 anos, garota dá aulas de balé para outras crianças em projeto social em Goiás e faz atividades no Haiti; quero sempre ajudar, diz

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as vezes por semana. O que eu fico com dúvida, olho na internet para ver se é daquele jeito mesmo. Em casa, eu e minha mãe montamos as coreografi­as. Já criamos dois espetáculo­s, e apresentam­os no final de 2015 e de 2016, sobre bullying. Todas já sofreram discrimina­ção por questão física e racismo.

Elas criaram uma confiança grande em mim. Uma vez, uma aluninha começou a chorar porque a irmã dela tinha morrido. A música que a gente estava dançando falava de nascimento. Ela lembrou e chorou no meio da aula e acalmei ela. Nas férias, as meninas mandam mensagens para o telefone da minha irmã, perguntand­o quando vão voltar as aulas.

Ainda não achamos uma professora para me ajudar. Seria muito bom se encontráss­emos, porque tenho que dar aulas com toda a turma junta e fica difícil ensinar algumas coisas, pois as menores não conseguem acompanhar. A sala também precisa de melhorias. Ainda não tem barra nem espelho.

Fico muito emocionada e orgulhosa de mim mesma por ter conseguido um tempo para ajudá-las. Eu acho que muitas pessoas têm o dom de dançar, mas não tem ninguém para ajudar. Meu sonho é ver as meninas se tornando bailarinas profission­ais, nos palcos de verdade, dançando. Quando eu ajudo a pessoa, me sinto mais feliz. AMIGOS NO HAITI Todo ano, a gente [o grupo da igreja evangélica que frequenta] vai para o Haiti fazer missões. Já passei dois aniversári­os lá. Neste ano, a viagem vai ser em julho.

Lá, a gente fala um pouquinho de Deus para eles, vai aos orfanatos e aos bairros. A gente ensina, joga bola com os meninos e dança com as meninas. No ano retrasado, montei uma coreografi­a para os meninos de um orfanato. No ano passado, quando voltei, eles lembravam.

Eu fico feliz e triste ao mes- mo tempo. Feliz porque estou ajudando. Triste quando olho o estado das pessoas, aquele lugar todo destruído.

As escolas não têm nada. O quadro é um pedaço de madeira, que é a divisória das salas. É um galpão, um monte de criança sentada e um pedaço de madeira. É muito barulho, nem sei como eles conseguem concentrar.

Em 2015, uma menina soube que era meu aniversári­o, saiu correndo e pegou flores para me dar de presente.

No ano passado, também no meu aniversári­o, peguei uma menininha no colo e ela dormiu. Foi o melhor aniversári­o. Eu estava em uma cidade, e uma amiga que conheci no Haiti descobriu, pegou uma carona e foi lá me ver.

Pensamos em adotar um menino [Camille é filha única], mas ficamos com medo, é muito tempo esperando. Uma amiga nossa, dos Estados Unidos, foi adotar uma menina e, no dia que ela chegaria, não veio. Tinham dado a criança para outra família. FUTURO Estudo no período da manhã. À tarde vou para o inglês e para o balé. Também faço reforço escolar. Tenho dificuldad­e em matemática, não gosto de jeito nenhum.

Tenho muitos sonhos. Acho que minha profissão vai ser na área de dança, mas talvez até lá eu já seja cantora. Ou cheerleade­r —eu gosto. O que não quero nunca é parar de ajudar as pessoas.

 ?? Arquivo pessoal ?? Camille no Haiti, país para onde voltará neste ano
Arquivo pessoal Camille no Haiti, país para onde voltará neste ano

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