Folha de S.Paulo

Morte de homossexua­l inspira espetáculo em nove ‘rounds’

- IARA BIDERMAN

FOLHA

Um corpo foi encontrado em um pacote à beira do rio Tiête. A vítima fora levada pelos dois assassinos para uma casa na zona norte de São Paulo e morreu afogada no tanque de lavar roupa.

Mairto, a vítima, era gay. A notícia de 2002 foi o início do processo de criação de “Mairto”, da Caleidos Cia. de Dança, que estreou sua temporada no último sábado.

“Comecei a ler a notícia por curiosidad­e mórbida. Quanvi do que se tratava, foi um impacto enorme. No dia seguinte escrevi um poema para botar para fora o sentimento ruim”, conta Fábio Brazil, que assina a dramaturgi­a e codireção do espetáculo.

Uma década depois, a notícia ganhou corpo. “Mairto” é o primeiro espetáculo de uma trilogia preparada pela Caleidos sobre a cultura do macho, contemplad­a pelo prêmio Klauss Vianna, da Funarte.

A série pretende abordar a questão por meio das principais vítimas dessa cultura, diz Isabel Marques, diretora da Caleidos. A próxima coreografi­a, prevista para estrear em abril, tratará da mulher, na figura de Ana Bastarda, índia escrava que comprou a própria alforria, no século 17.

Para dançar os poemas que contam o suplício de Mairto, Marques criou, com os bailarinos, jogos de improvisaç­ão no drama que se desenrola em um ringue de MMA.

“Onde encontrari­a três homens confinados no mesmo lugar, pelo menos dois deles dispostos a se relacionar por meio da violência? E como uma pessoa se propõe a entrar num ringue e bater muito em alguém que nem conhece?”, pergunta Brazil.

A tensão sexual da luta não escapou ao poeta e dramaturgo. “O MMA é um jogo de sedução e violência, quase uma dramaturgi­a da sexualidad­e.”

Para ele, havia três formas de se contar a história de Mairto: “A notícia, a poesia e o que só os corpos podem contar, o que aconteceu entre eles. A história dos corpos é o lugar para se fazer a dança”.

O caldo ferve em nove rounds, entremeado­s pelo gongo e por “garotas do ringue” com cartazes com perguntas como “E se fosse seu filho?” ou “O que matou Mairto?”. QUANDO de 11/2 a 20/2; sáb., às 21h, dom., às 19h e seg., às 20h ONDE SP Escola de Teatro, pça. Franklin Roosevelt, 210, tel. (11) 3775-8600 QUANTO R$ 20 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

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