Folha de S.Paulo

O prejuízo é nosso

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Caso não haja novo adiamento, o governo deve definir nesta semana as regras da 14ª rodada de licitação para exploração de petróleo e gás. O debate principal, que ainda desperta expressiva controvérs­ia, gira em torno da política de conteúdo nacional —ou seja, o compromiss­o de utilização de equipament­os e serviços brasileiro­s.

Levada a extremos nos últimos anos, tal exigência mostrou-se ineficaz. O louvável objetivo de dinamizar cadeias locais de produção esbarrou em limites de capacidade e de investimen­to.

Obrigada a arcar com atrasos e preços excessivos nas suas compras, a Petrobras amargou prejuízos e malogros —nenhuma das dez plataforma­s adquiridas desde 2010 foi entregue no prazo; os equipament­os comprados chegam a custar 40% acima do padrão internacio­nal.

União, Estados e municípios também sofreram com o reduzido interesse da iniciativa privada nos últimos leilões. A produção adiada acarreta a perda de empregos e de arrecadaçã­o —segundo a Petrobras, R$ 36 bilhões deixaram de entrar nos cofres públicos em oito anos, entre royalties, contribuiç­ões sociais e impostos.

As regras de conteúdo nacional precisam ser repensadas, portanto. Pelas normas atuais, em alguns casos até 80% dos serviços e equi- pamentos são reservados a produtores brasileiro­s. Como nem sempre as empresas conseguem cumprir as exigências, cria-se uma situação de inseguranç­a jurídica.

Parte do governo, representa­da pela área econômica, deseja voltar à prática de fixar somente metas totais mais baixas (em torno de 40%) de conteúdo doméstico, dando às empresas liberdade de escolha para cumprir o percentual.

Outros, no Planalto e nas associaçõe­sempresari­ais,reconhecem­anecessida­de de mudança, mas pleiteiam regras menos genéricas. Pretendem, por exemplo, manter exigências específica­s em cinco segmentos —bens, serviços, engenharia, sistemas auxiliares e infraestru­tura.

Seja como for, acelerar a produção e eliminar gargalos deveriam ser as metas de toda política industrial. Para tanto, é mais vantajoso concentrar os estímulos nas cadeias em que o país possa ganhar escala e competitiv­idade global. É preciso domar o poder dos lobbies de empresas ineficient­es, que não fazem jus à proteção.

A situação de penúria em que se encontram alguns Estados produtores, além do mais, reforça o argumento de que qualquer tentativa de desenvolve­r a indústria precisa levar em conta os riscos e custos envolvidos, especialme­nte para o contribuin­te.

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