Folha de S.Paulo

Temer oficializo­u a blindagem

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BRASÍLIA - Alguns políticos são mestres em fazer uma coisa e anunciar o seu contrário. Michel Temer lembrou que domina a arte nesta segunda (13), ao divulgar novas regras para a demissão de ministros.

Com uma penca de auxiliares na mira da Lava Jato, o presidente convocou a imprensa para dizer o seguinte: “O governo não que blindar ninguém, e não vai blindar”. Em seguida, ele acrescento­u: “Não há nenhuma tentativa de blindagem”.

Não é preciso ir longe para ver que o discurso não para em pé. Há menos de duas semanas, Temer recriou um ministério para Moreira Franco. O cargo deu foro privilegia­do ao peemedebis­ta, que foi citado 34 vezes numa delação da Odebrecht. Em português claro, Temer nomeou o aliado para blindá-lo da Justiça.

Ao anunciar a nova cartilha, o presidente afirmou: “Se alguém converter-se em réu, estará afastado”. Parecia uma medida moralizado­ra, mas era o oposto disso. O presidente deu um salvo-conduto aos auxili- ares investigad­os por corrupção. A partir de agora, eles poderão ser delatados à vontade até que os inquéritos se transforme­m em ações penais.

De acordo com Temer, só será “afastado provisoria­mente” quem for alvo de denúncia formal da Procurador­ia-Geral da República. A demissão será reservada ao ministro que conseguir a proeza de virar réu no Supremo Tribunal Federal.

Na prática, o presidente oficializo­u a blindagem dos auxiliares encrencado­s com a Justiça. A lentidão do Supremo se encarregar­á de manter a equipe unida. Em quase três anos de Lava Jato, a corte só recebeu cinco denúncias contra políticos.

O subsecretá­rio de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, foi autor da ação do governo que censurou a Folha .Eletemexpe­riência no ramo. Como advogado de Eduardo Cunha, moveu uma série de processos contra jornalista­s que escreveram sobre o correntist­a suíço.

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