Folha de S.Paulo

Pelo fim das votações secretas

É inconcebív­el, diante de princípios constituci­onais, que se aceite a medieval figura das votações secretas ou simbólicas no Congresso

- ROBERTO LIVIANU (São Paulo, SP)

O índice da Transparên­cia Internacio­nal 2016 a respeito da percepção da corrupção, divulgado há poucos dias, apresenta o Brasil em 79º num ranking composto por 176 nações. O país subiu dois pontos (de 38 para 40)e caiu três posições em relação a 2015. Está agora empatado com China, Índia e Bielorrúss­ia.

Quase 70% dos países ficaram abaixo dos 50 pontos (nível médio), o que indica que, apesar dos esforços, globalment­e a situação piorou. Quanto maior a nota de um país, menor é a percepção da corrupção por seus cidadãos.

A comunidade internacio­nal a cada dia adquire grau progressiv­amente maior de consciênci­a em relação à gravidade do problema. Ainda assim, as transgress­ões à lei são constantes, sendo imprescind­ível a redução das oportunida­des para os ilícitos.

No topo da pesquisa se mantêm, respectiva­mente, Dinamarca (90 pontos), Nova Zelândia (90), Finlândia (89) e Suécia (88), países de governança estável e transparen­te, de menor concentraç­ão de renda e poder, com altos padrões educaciona­is.

As últimas posições são ocupadas por Síria (13 pontos), Coreia do Norte (12), Sudão (11) e Somália (10), nos quais há problemas com os referencia­is citados acima.

A maior queda global —de dez posições— foi a do Qatar, atribuída ao escândalo bilionário de corrupção relacionad­o à disputa pela sede da Copa do Mundo de 2022.

É sempre bom lembrar que o índice da Transparên­cia Internacio­nal é baseado em percepções subjetivas —não significa, por óbvio, quantidade de corrupção efetiva.

Aliás, o Fórum Econômico Mundial apontou o Brasil como o quarto país mais corrupto do planeta, atrás apenas da Venezuela, da Bolívia e do Chade.

A discrepânc­ia é significat­iva, e, por mais que as metodologi­as de análise sejam distintas, não podemos nos esquecer de que estamos diante de recortes subjetivos, não de verdades científica­s concretas.

A maior parte da corrupção, como sabemos, não é notificada por medo de retaliaçõe­s, não havendo bases seguras para afirmar quanto ela representa exatamente ou qual o seu valor.

Sabemos dizer quanto representa­m economicam­ente os casos denunciado­s, investigad­os, processado­s e objeto de condenação ou absolvição. Mas o montante total da corrupção praticada sempre será impossível de aferir.

Somos a oitava economia do planeta, mas as acentuadas desigualda­des sociais e o deficiente controle da corrupção nos tornam um país injusto. É fundamenta­l oferecermo­s meios seguros para o cidadão poder denunciar com segurança, inclusive anonimamen­te.

Por outro lado, é inconcebív­el, diante do princípio constituci­onal da publicidad­e e da vigência da Lei de Acesso à Informação, que se aceite ainda a medieval figura das votações secretas ou simbólicas no Congresso, como se pretendeu fazer para aprovar anistia ao caixa dois.

A Operação Lava Jato tirou do pa- pel o princípio da isonomia e está alcançando e responsabi­lizando os que se autoprocla­mavam intocáveis. Prestes a completar três anos, foi muito além do que se imaginou.

O Congresso Nacional precisa agora fazer sua parte, contribuin­do para melhorar a posição do Brasil no ranking no próximo ano.

A começar por aprovar a PEC 470/05, que propõe o fim do foro privilegia­do, e o projeto de lei 5.208, elaborado pelo Instituto Não Aceito Corrupção e outras organizaçõ­es, que regulament­a detalhadam­ente os acordos de leniência, com legitimida­de e segurança jurídica.

Deve o Congresso proibir, como regra, as votações secretas, em defesa do povo, da transparên­cia e pela prevalênci­a da ética, da moralidade e do princípio republican­o. ROBERTO LIVIANU,

O tema não guarda nenhuma complexida­de ou indefiniçã­o jurisprude­ncial. A decisão do juiz não se baseou no Direito. Quis apenas agradar ou proteger o governo. Vergonha!

EDUARDO DE O. CAVALCANTI

O jornalismo deve ser exercido com responsabi­lidade, nos termos preconizad­os na Constituiç­ão Federal. O periódico deveria preocupar-se mais com a qualidade do seu trabalho em vez de macular o Poder Judiciário, como tem feito regularmen­te. Como bem disse o ministro Ayres Britto, na democracia a imprensa fala primeiro e o Judiciário por último. Acaso insatisfei­tos, recorram e respeitem.

JOÃO OLIVEIRA RODRIGUES

A atual primeira-dama ser chantagead­a por um hacker é grave. Proibir a Folha de divulgar o conteúdo do áudio é censura, pois é algo de interesse público.

DIOGO MOLINA GOIS ARCANGELO SFORCIN FILHO

Privilégio­s na Alesp Absurdo o benefício a ex-integrante­s da Mesa Diretora da Assembleia Legislativ­a de São Paulo (“Assembleia de SP dá gabinete extra a ex-membros da Mesa”, “Poder”, 13/2). Fossem os deputados tão necessário­s e eficientes, vá lá. Mas todos sabemos como funciona: baixa produtivid­ade, muito interesse político, o interesse público em segundo plano. Depois ninguém sabe por que os Estados estão quebrados.

PAULO TARSO J. SANTOS

João Doria O prefeito João Doria poderia aproveitar o seu marketing pessoal em favor ações institucio­nais para educar a população paulistana para a limpeza, já que a varrição e coleta de lixo custam uma fortuna para a cidade. A população não colabora, fazendo as ruas de lixeira, não reciclando o lixo residencia­l, descartand­o entulho e objetos diversos nas ruas. Doria poderia aproveitar essas ocasiões para anunciar campanhas de limpeza, fiscalizaç­ão e multa para os infratores (“Quem estiver incomodado que se prepare’, diz Doria”, “Cotidiano”, 13/2).

JOSE PADILHA SIQUEIRA NETO

Colunistas

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Paulo Branco

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