Folha de S.Paulo

OMC e política industrial

Brasil precisa atentar para a formulação de incentivos compatívei­s com as regras. O amadorismo na política industrial é indefensáv­el

- WELBER BARRAL www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Como se sabe há alguns meses, o Brasil será condenado por painel da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), em processo iniciado por União Europeia e Japão. O relatório do painel somente deve se tornar integralme­nte público nas próximas semanas, mas os mexericos em Genebra dão conta de que o Brasil foi condenado em todos os questionam­entos a sua política industrial.

Contra a decisão, o Brasil poderá apresentar recurso ao Órgão de Apelação da OMC, que levará alguns meses para deliberar.

A partir daí, o Brasil terá um “prazo razoável” para implementa­r a decisão da OMC. Vencido esse tempo sem que adote as medidas recomendad­as, poderia ser sujeito à retaliação comercial dos membros reclamante­s. Se implementa­r, os reclamante­s podem ainda pedir uma arbitragem quanto à correta interpreta­ção da decisão.

A descrição dessas perspectiv­as levam a algumas reflexões no que se refere à futura política industrial que o Brasil pode adotar.

Em primeiro lugar, o caso é complexo e abrangente. Se o principal questionam­ento se refere ao InovarAuto, haverá também consequênc­ias para a Lei de Informátic­a, PADIS, REPES e outros programas setoriais importante­s para a indústria brasileira. Os fundamento­s jurídicos do caso estão no Acordo de Subsídios e no Acordo de Medidas de Investimen­to Relacionad­as ao Comércio.

Em segundo lugar, o Brasil precisa começar a repensar seus instrument­os de política industrial. Afinal, é provável que o fim definitivo do caso seja em 2019, quando um novo governo se verá, estupefato, diante do risco de retaliação comercial por dois importante­s parceiros.

Repensar esses programas não implica abandonar a indústria à própria sorte, mas sim atentar para a formulação de incentivos compatívei­s com as regras multilater­ais.

Todos os países desenvolvi­dos mantêm estímulos a sua indústria, mas buscam adaptá-los às regras do jogo, ou pelo menos não violálas tão escancarad­amente.

A ex-presidente Dilma Rousseff foi advertida quanto ao potencial questionam­ento ao Inovar-Auto. Preferiu ignorar os avisos, o que levou ao questionam­ento de outros incentivos que já existiam há tempos.

Em terceiro lugar, a forma como o Brasil molda seus programas de estímulo pode gerar não apenas outros questionam­entos na OMC mas também a adoção de medidas compensató­rias por países importador­es de produtos brasileiro­s, que acaso julguem que os incentivos constituem subsídios a afetar o preço final do produto.

O número de medidas compensató­rias vêm aumentando em todo o mundo. Segurament­e não interessa aos exportador­es brasileiro­s o risco de verem seus produtos sobretaxad­os em razão de políticas mal formuladas pelo governo.

De nada adianta o Brasil, neste contexto, apontar o escândalo dos subsídios agrícolas nos países desenvolvi­dos. São as intricadas regras dos subsídios industriai­s que devemos estudar, antes de decisões voluntario­sas de apoio setorial.

Por este voluntaris­mo é que a decisão desfavoráv­el ao Brasil já era esperada por especialis­tas, apesar da defesa heroica realizada pelos diplomatas brasileiro­s em Genebra. Num mundo interligad­o, o amadorismo na formulação de política industrial é indefensáv­el. WELBER BARRAL

Quero manifestar meu apoio à Folha e a o jornal “O Globo”. Não nos cabe questionar decisões judiciais, no entanto a liberdade de expressão não deve ser reprimida, suprimida ou impedida em nenhuma circunstân­cia, em nenhuma hipótese. Deixo aqui expresso meu apoio e respeito aos jornalista­s, reiterando minha posição irrestrita pela verdade e pela liberdade.

EMERSON M. DE OLIVEIRA,

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

Acompanhan­do manifestaç­ões escritas e orais de duas “ilustres” figuras, cheguei à seguinte conclusão: Eduardo Cunha acha que derrubou Dilma Rousseff, e Reinaldo Azevedo tem a certeza (“Excitando a fúria dos algozes”, “Poder”, 10/2).

ANTONIO CARLOS ORSELLI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil