Folha de S.Paulo

CENSURA À FOLHA Subchefe da Casa Civil atua em casos privados de Temer

Gustavo do Vale Rocha foi quem assinou petição contra a Folha em nome da primeira-dama, Marcela Temer

- CAMILA MATTOSO DÉBORA ÁLVARES

Segundo ele, não existe conflito de interesses e há amparo legal; Rocha foi também advogado de ex-deputado Cunha

O episódio da censura à Folha revela o aumento da influência e do prestígio do subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, dentro do Palácio do Planalto.

Rocha é quem assina a petição em nome da primeirada­ma, Marcela Temer, pedindo à Justiça de Brasília a proibição de publicação de informaçõe­s sobre chantagem de um hacker sofrida por ela.

A bancada do PT do Senado anunciou que vai entrar com uma representa­ção na Comissão de Ética Pública da Presidênci­a pedindo investigaç­ãosobreaat­uaçãodele.

Segundo a líder petista na Casa, Gleisi Hoffmann (PR), se ficar comprovado que houve irregulari­dade, o partido vai pedir a abertura de procedimen­to.

“A atuação dele no caso fere a lei de conflitos de interesse. Deveria ter, no mínimo, um registro na agenda dele de uma conversa sobre o assunto com a primeira-dama”, disse a senadora.

Em resposta à Folha , Rocha afirmou que não vê conflito de interesses em sua atuação no episódio.

“Em razão da função que exerço, nos termos da consulta por mim formulada ao Conselho Seccional da OAB/DF logo que tomei posse, só há impediment­o para exercer a advocacia contra a Fazenda Pública”, disse.

Questionad­a, a assessoria da Presidênci­a da República afirmou que o assessor da Casa Civil é “advogado da primeira-dama” e, por isso, foi acionado para entrar no caso.

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) nacional, Claudio Lamachia, que condenou a censura determinad­a pela Justiça de Brasília, seguiu o mesmo discurso de Rocha sobre a legalidade de sua participaç­ão no pedido de liminar.

“Segundo a lei, não há impediment­o para que ele atue nesse caso. Como ocupante de cargo público, ele não pode advogar contra a União, que é quem o remunera”, disse.

É a terceira vez que Rocha assume uma causa particular da família Temer. Outras duas foram em defesa do próprio presidente, todas elas no Tribunal de Justiça do Distrito Federal —uma contra o ex-ministro Ciro Gomes e outra em relação ao irmão dele, Cid Gomes, ex-governador do Ceará.

Em novembro, o assessor jurídico apareceu em gravações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero em que atua no caso envolvendo o ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e uma obra em Salvador (BA) —Geddel saiu do governo por causa do escândalo.

Na ocasião, Rocha alegou que teria apenas recomendan­do que o tema fosse enviado à AGU (Advocacia-Geral da União).

Ele já advogou para Geddel e outros membros do PMDB, incluindo o ex-presi- dente da Câmara Eduardo Cunha (RJ), hoje preso em Curitiba, e acumula o cargo na Casa Civil com a função de con- selheiro do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) —posto para o qual foi indicado com o apoio de Cunha.

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Edilson Rodrigues -25.mai.2015/Agência Senado O subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil do governo Temer, Gustavo do Vale Rocha
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