Folha de S.Paulo

Temer diz que demite ministro que virar réu

Segundo o peemedebis­ta, citado na Lava Jato, simples menção em delações não pode servir para incriminar

- GUSTAVO URIBE MARINA DIAS

Em um breve pronunciam­ento, presidente disse que ‘o governo não quer e não vai blindar ninguém’ DE BRASÍLIA

Em uma tentativa de blindar sua equipe ministeria­l, principalm­ente o núcleo do Planalto, o presidente Michel Temer anunciou nesta segunda (13) que ministros citados pela Operação Lava Jato só serão demitidos caso virem réus.

Em um breve pronunciam­ento, convocado após críticas de adversário­s de que atuaria para frear as investigaç­ões, o peemedebis­ta ressaltou que a menção a um ministro em delações premiadas não pode servir para incriminá-lo ou afastá-lo definitiva­mente do cargo.

Segundo a Folha apurou, auxiliares próximos a Temer avaliaram que o pronunciam­ento foi um gesto importante, mas que demorou a acontecer. A decisão pelo discurso público ocorreu em meio à guerra jurídica causada com a nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidênci­a da República que, consequent­emente, rendeu a ele foro privilegia­do.

Entre os auxiliares mais próximos do presidente, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) foi citado 45 vezes na delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucio­nais da Odebrecht. Moreira foi mencionado 34 vezes.

“O governo federal não quer e não vai blindar ninguém. Apenas não pode aceitar que a simples menção inaugurado­ra de um inquérito, para depois inaugurar um processo, já seja de molde a incriminá-lo em definitivo e, em consequênc­ia, afastar o eventual ministro”, disse.

Caso seja feita uma denúncia, a ideia é que o ministro seja afastado provisoria­mente por meio de uma licença por tempo indetermin­ado. A medida manteria as prerrogati­vas do cargo, com o recebiment­o de salário integral e o direito a foro privilegia­do.

A demissão só ocorrerá caso o STF (Supremo Tribunal Federal) acolha a denúncia da PGR (Procurador­ia-Geral da República), tornando-o réu. No discurso, o presidente ressaltou que a medida só será aplicada em relação à Lava Jato, não sobre outras in- vestigaçõe­s criminais.

“Se houver denúncia, o que significa um conjunto de provas que possa conduzir ao seu acolhiment­o, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoria­mente. Se acolhida a denúncia, aí a pessoa se transforma em réu. Isto eu estou mencionand­o os casos da Lava Jato, e se transforma­ndo em réu, o afastament­o é definitivo”, disse.

A nova medida não foi adotada, no ano passado, em relação aos ex-ministros Romero Jucá (Planejamen­to) e Henrique Eduardo Alves (Turismo). Ambos foram exonerados após serem citados em delações premiadas, sem terem se tornado réus.

Para aliados e assessores, Temer resolveu criar um roteiro diante da homologaçã­o das 77 delações de executivos da Odebrecht. Dessa forma, afirmam, o presidente estabelece um critério mais claro, já que ele próprio foi citado 43 vezes por Melo Filho.

“Eu quero anunciar em caráter definitivo, e talvez pela enésima vez, que o governo jamais poderá interferir nessa matéria, que corre por conta da Polícia Federal”, disse o presidente.

A declaração foi feita no mesmo dia em que a ADPF (Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal) entregou a Temer pedido para que ele demita o diretorger­al da PF, Leandro Daiello.

O presidente, segundo assessores, avalia que não é o momento para se fazer uma troca. Ele quer evitar passar a imagem de que o objetivo de uma mudança seria interferir na Operação Lava Jato.

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