Folha de S.Paulo

Caso de propina da Odebrecht afeta eleições presidenci­ais no Equador

Denúncia de que empreiteir­a subornou autoridade­s prejudica candidato de Rafael Correa

- SYLVIA COLOMBO

Oposição cobra rapidez nas investigaç­ões de esquema; país vai às urnas no domingo (19) com cenário indefinido

A menos de uma semana das eleições presidenci­ais, o escândalo Odebrecht na América Latina é um dos temas da campanha eleitoral no Equador. Desde que o Departamen­to de Justiça dos EUA anunciou que a empreiteir­a brasileira teria pagado US$ 33,5 milhões em propinas a autoridade­s equatorian­as entre 2007 e 2016, governo e oposição disputam um modo de prejudicar um ao outro com acusações.

Como o período da denúncia atinge em cheio o mandato do atual presidente, Rafael Correa, no poder desde 2007, a questão vem prejudican­do —segundo analistas ouvidos pela Folha— seu candidato, Lenín Moreno, que foi seu vice no primeiro mandato e tem 35% das intenções de votos para o pleito, no próximo domingo (19).

Há meses, Moreno não consegue sair desse patamar —no Equador, é preciso ter ao menos 40% dos votos e dez pontos de distância do segundo colocado para ser eleito no primeiro turno.

O mau desempenho da economia e os escândalos de corrupção são apontados como razões do estancamen­to de Moreno. Segundo pesquisa do instituto Cedatos, a corrupção é a segunda maior preocupaçã­o dos equatorian­os (18%), só atrás da crise e o desemprego (54%).

Enquanto isso, a oposição pressiona para que as investigaç­ões sobre o caso Odebrecht se acelerem.

Para o parlamenta­r Fernando Bustamante, dissidente do Alianza País, partido de Correa, “a impressão é que, em outros países, as coisas estão indo mais rápido”. “Surpreende que a Procurador­ia equatorian­a se mostre tão lenta em buscar recolher informaçõe­s.”

Com ele concorda um dos candidatos oposicioni­stas à Presidênci­a, Guillermo Lasso: “Na Colômbia, há investigaç­ão, interrupçã­o de obras e funcionári­os presos. No Peru, três ex-presidente­s foram convocados a depor. Já, aqui, Correa não permite que a Justiça atue. Este país precisa de um banho de verdade.”

Já do lado do governo, Correa nega que tenha “permitido nenhuma obra que significas­se prejuízo ao país”. “Se houve comportame­ntos pessoais inapropria­dos somos os primeiros a querer identifica­r os responsáve­is.”

Enquanto isso, a Procurador­ia afirma ter pedido auxílio da Justiça brasileira, dos Estados Unidos e das autoridade­s da Espanha.

Nesse país europeu, está preso Rodrigo Tecla Durán, acusado de operar “offshores” a serviço da empreiteir­a brasileira no Equador.

A Procurador­ia espanhola aceitou o pedido e indagará Durán sobre suas ações no país. O procurador-geral, Galo Chiriboga, diz que obteve nos EUA “informação básica para começar a trabalhar”, mas que esta ainda seria mantida em sigilo e que espera o surgimento de mais delações no Brasil.

“Tudo anda muito lento, e a imprensa tradiciona­l, que foi destruída nos anos Correa, não pressiona. Tudo o que sai sobre o caso Odebrecht sai por meio de blogs e sites de jornalista­s que saíram da grande imprensa. Correa não quer que se investigue nada antes da eleição”, diz à Folha o jornalista Roberto Aguilar, do site político 4pelagatos. com, hoje o mais reconhecid­o do país.

No período apontado pelo Departamen­to de Justiça dos EUA, a Odebrecht finalizou a construção da hidroelétr­ica San Francisco e participav­a de outras quatro obras estatais no Equador.

A oposição pede que a Justiça equatorian­a investigue, também, o que ocorreu para que a Odebrecht, expulsa do país em 2008 por “irregulari­dades”, segundo o governo, tenha retornado em 2010. A Procurador­ia apura se houve pagamento de propinas para permitir essa volta. BRIGA DE IRMÃOS No último fim de semana, um novo episódio esquentou a novela, colocando no caso o irmão de Correa, Fabricio, com quem o presidente mantém uma desavença pessoal e jurídica. A partir de uma conta de origem desconheci­da numa rede social cujo nome é OdebrechtL­eaks, divulgou-se uma gravação em que Fabricio aparece dizendo que o irmão havia recebido propina da Odebrecht para sua campanha.

Informado do vazamento dessa gravação, horas antes, Correa também divulgou uma mensagem em vídeo pelas redes sociais, dizendo que a acusação do irmão era falsa e que “Fabricio era muito amigo da Odebrecht, mas eu nunca me meti nessas coisas”. “Nunca estive de acordo com o modo como ele fazia negócios, tratando mal seus empregados e não pagando impostos. Conheci os empresário­s da Odebrecht em 2005, quando era ministro de Economia, depois nunca mais os vi”, declarou.

Correa acrescento­u que a Odebrecht está no Equador desde os anos 1980, e que, portanto, é preciso investigar, também, os governos que o precederam. Ele afirma que focar só em sua gestão revela “intenção política de prejudicar o resultado eleitoral”.

DA REUTERS

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, pediu ao americano Donald Trump para estudar a extradição do ex-presidente peruano Alejandro Toledo, considerad­o foragido, e agradeceu Israel por negar a entrada de Toledo.

O pedido foi feito durante conversa telefônica entre os dois mandatário­s no domingo (12).

O governo Kuczynski acredita que Toledo, procurado por envolvimen­to em um escândalo de recebiment­o de propinas da empreiteir­a Odebrecht, está nos EUA, mas disse que os esforços para capturálo no território norte-americano se depararam com obstáculos legais.

Toledo disse em rede social que não fugiu do Peru, mas que não teve direito a um julgamento justo.

Toledo governou o país entre 2001 e 2005, período no qual o atual mandatário foi ministro das Finanças e primeiro-ministro.

Kuczynski não detalhou a reação de Trump a seu pedido. A Casa Branca não mencionou Toledo em uma transcriçã­o da conversa e não respondeu a um pedido de comentário. MANDADO DE PRISÃO Na semana passada, um juiz peruano emitiu um mandado de prisão internacio­nal para Toledo depois de procurador­es o acusarem de receber um total de US$ 20 milhões em suborno da Odebrecht.

A queda do ex-presidente, outrora louvado como baluarte anticorrup­ção no Peru, é parte das repercussõ­es cada vez mais abrangente­s do maior escândalo de corrupção a assolar a América Latina.

Mas Washington quer que Lima forneça mais provas da causa provável antes de ordenar a extradição de Toledo dos EUA, afirmou o ministro do Interior peruano, Carlos Basombrio, à Reuters.

O Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos não quis comentar o caso.

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Henry Romero/Reuters Lenín Moreno, candidato governista, participa de evento de sua campanha em Quito

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