Folha de S.Paulo

Há chance contra corrupção, diz peruano

Gustavo Gorriti, jornalista que revelou irregulari­dades da Odebrecht no Peru, vê oportunida­de única para a região

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DA ENVIADA A GUAYAQUIL (EQUADOR)

“Vivemos uma grande oportunida­de na América Latina de acabar com esse modus operandi da corrupção que envolve governos e empresas há muito tempo”, diz à Folha o jornalista e escritor peruano Gustavo Gorriti, 69.

Vencedor do prêmio María Moors Cabot, membro do Consórcio Internacio­nal para Jornalismo de Investigaç­ão e diretor do IDL-Reporteros, Gorriti investiga desvios de verbas para obras públicas no Peru há muitos anos.

Mesmo antes de a Lava Jato ter começado no Brasil, ele já detectara indícios de que a empreiteir­a brasileira Odebrecht, além de outras, vinha pagando subornos para ser favorecida em licitações de obras públicas em seu país.

Leia, abaixo, a entrevista que Gorriti concedeu de Lima à Folha, por telefone. Folha - Quando começaram as suspeitas com relação à Odebrecht no Peru?

Gustavo Gorriti - Suspeitas quanto a desvios por obras públicas existem há muitos anos, mas sempre foi muito difícil provar. Em 2011, por meio das investigaç­ões dos contratos do governo que fazíamos, começamos a dar de cara com as transações da Odebrecht, da Camargo Corrêa e de outras empresas.

O que não tínhamos ideia era da quantidade de dinheiro que se movimentav­a e do escopo disso tudo, que só começou a tomar mais forma quando no Brasil se instalou a Lava Jato e esse recurso da delação premiada, essencial para obter informaçõe­s em casos de corrupção como esses. Aí percebemos, que no caso do Peru, sim, havia várias empresas envolvidas, mas que a Odebrecht era o barco que comandava a frota. Depois o sr. viajou a Curitiba e conheceu os responsáve­is pela investigaç­ão no Brasil?

Sim, em 2015, e é curioso porque, naquela primeira visita, eles me pareciam um grupo de magistrado­s jovens, fazendo um trabalho altamente técnico, sério e profundo, e que naquele momento ainda trabalhava­m sem o furor midiático que depois se montou em torno deles. Foi proveito- poderes nos países da América Latina?

Sem dúvida. No Brasil, vemos como é difícil esse processo, mas muitos já foram presos ou estão perto disso.

Nos outros países em que o Judiciário tem menos liberdade, o papel da imprensa vai ser muito mais importante, para pressionar e fazer com que aqueles que investigue­m não se curvem diante do poder político. O Peru é um desses países, embora nossa Procurador­ia esteja agindo bem. Ainda assim, é preciso vigiar. O meu objetivo com o Reporteros é sempre estar alguns passos adiante da Procurador­ia, e é isso que acho que a imprensa dos outros países deveria fazer. Em quais países acha que isso será mais complicado?

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Gabriel Perez - 21.abr.2013/Universida­de do Texas/Knight Center O jornalista peruano Gustavo Gorriti fala em evento de jornalismo em Austin (Texas)

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