Folha de S.Paulo

Analistas veem pela 1ª vez IPCA abaixo de 4,5%

- ÉRICA FRAGA MARIANA CARNEIRO DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS DE SÃO PAULO

DE SÃO PAULO

Sem um aumento na arrecadaçã­o de impostos, o rombo nas contas do setor público brasileiro só perderá para o deficit da Venezuela entre 2015 e 2018. A conclusão é de estudo inédito do Credit Suisse, com dados de 68 países.

De acordo com o banco, a recente adoção de um teto para limitar a expansão dos gastos do governo e a possível aprovação da reforma da Previdênci­a serão insuficien­tes para evitar esse cenário.

Nesta segunda-feira (13), a agência Fitch alertou para o risco de rebaixamen­to da nota soberana de crédito do Brasil caso o governo não adote medidas extras para conter a expansão da dívida pública.

Pelo cálculo do Credit Suisse, se nenhum ajuste, via aumento de receita, for feito, o deficit nominal (diferença entre receitas e despesas) do Brasil será de 9,5% do PIB (Produto Interno Bruto), em média, entre 2015 e 2018.

Projeções do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) indicam que, no caso venezuelan­o, o número será de 24,7% do PIB, no mesmo período.

Países que estiveram a ponto de quebrar recentemen­te, como Grécia, Espanha e Portugal, não encontram um deficit tão alarmante quanto o brasileiro.

Com a trajetória de gastos prevista pelo banco, a dívida chegará a 99% do PIB em 2024. Essa projeção considera saída da recessão em 2017 e expansão média de 2% ao ano nos dez anos seguintes.

A conclusão é que o desafio de equilibrar as contas do governo é elevado, apesar da recente calmaria no mercado financeiro. Além disso, a esperada correção pode acontecer tarde demais.

Mesmo que o próximo go- verno persiga o limite de expansão de gastos e a reforma da Previdênci­a seja aprovada, a dívida pública pararia de crescer apenas na metade da próxima década.

Na avaliação do banco, o prazo alongado é arriscado.

“Esperar dez anos para finalmente estabiliza­r as contas do Brasil é um tempo muito extenso, difícil que nada dê errado até lá”, diz o analista Paulo Coutinho.

O banco levantou dados de 191 países desde 1980 e verificou que apenas em 24 episódios países ficaram quatro anos seguidos com deficit acima de 9% do PIB, como o Brasil, e apenas em sete casos o deficit ficou acima de 6% por 11 anos, como pode ocorrer com o país entre 2014 e 2025.

“Basta alguma coisa errada acontecer e o fiscal volta a ser um problema para o mercado”, diz Coutinho.

A saída, na avaliação do banco, é antecipar os efeitos do ajuste da próxima década, aplicando um aumento de impostos imediato e provisório.

Coutinho diz que o ponto de partida deveria ser a revisão de desoneraçõ­es tributária­s concedidas a empresas e a famílias de renda mais alta (descontos no IR para despesas com saúde e educação), além da reedição da CPMF.

“Sabemos das dificuldad­es no Congresso, mas o ideal seria fazer todas as medidas rapidament­e.” Isso poderia levar a um corte maior dos juros, com impacto positivo no cresciment­o em 2018 e 2019.

A defesa da necessidad­e da adoção de novas medidas para reduzir a gravidade do quadro fiscal do país tem ganhado ímpeto nas últimas semanas. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga tem enfatizado que o governo precisa cortar gastos imediatame­nte e fazer algum ajuste na carga tributária.

Na análise da Fitch Ratings, o cenário econômico do Brasil melhorou com a queda da inflação, mas a estagnação da confiança de empresário­s, o endividame­nto ainda elevado de consumidor­es e o desemprego alto prejudicam a recuperaçã­o.

Pela primeira vez em mais de quatro anos, analistas consultado­s pelo Banco Central preveem que a inflação de 2017 vai ficar abaixo do centro da meta, de 4,5%.

Segundo os economista­s consultado­s pela instituiçã­o semanalmen­te, o IPCA (índice oficial de preços) vai subir 4,47% neste ano. Foi a sexta semana seguida em que eles reduziram a expectativ­a para a alta da inflação —desta vez em 0,17 ponto percentual.

O monitorame­nto sobre a inflação de 2017 teve início em janeiro de 2013. Nesses quatro anos, apenas no período de agosto a setembro de 2015 a previsão chegou a encostar no centro da meta (4,55%), porém a instabilid­ade política (que meses depois culminaria na queda de Dilma Rousseff ) e a disparada do dólar fizeram as previsões serem elevadas.

No seu pior momento, em abril do ano passado, às vésperas do impeachmen­t, as estimativa­s para o IPCA chegaram a 6%.

A melhora nas estimativa­s para a inflação é resultado dos dados mais recentes de preços. A inflação no mês passado foi de 0,38% ante dezembro, a menor para um mês de janeiro desde o início do levantamen­to do IBGE, em 1979.

No acumulado dos 12 meses até janeiro, a inflação foi de 5,35%, ante 6,29% um ano antes.

Com isso, alguns especialis­tas passaram a projetar uma queda mais acentuada da taxa básica de juros (Selic) pelo BC.

Para o grupo que reúne as instituiçõ­es consultada­s pelo Banco Central que mais acertam as projeções, chamado de Top-5, a Selic em 2018 terminará em 9,38%. A estimativa anterior era de 9,5% —a mesma para este ano.

Em outubro, o Banco Central promoveu o primeiro corte nos juros no atual ciclo, de 14,25% para 14% ao ano. Hoje, a Selic está em 13%.

A entidade já sinalizou no mês passado que deverá manter nas próximas reuniões o ritmo mais forte de cortes na Selic. A próxima reunião para definir a taxa de juros está marcada para a semana que vem. CÂMBIO E PIB O Boletim Focus, realizado pelo BC, mostrou ainda que a projeção para o dólar este ano caiu para R$ 3,36, ante R$ 3,40 na semana anterior.

A expectativ­a para o cresciment­o econômico deste ano permanece abaixo de 0,50%. A projeção para a expansão do PIB ficou em 0,48%.

anos para finalmente estabiliza­r as contas do Brasil é um tempo muito extenso, difícil que nada dê errado até lá

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Eraldo Peres/Associated Press O presidente Michel Temer fala durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília

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