Folha de S.Paulo

Documentár­io investiga a natureza da imagem

- GUILHERME GENESTRETI

ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Dois filmes que tratam de gênero e sexualidad­e já são os mais aclamados da atual edição do Festival de Berlim, o mais afinado às questões LGBT entre as grandes mostras internacio­nais de cinema.

O drama sobre o amadurecim­ento amoroso de um adolescent­e italiano, “Call Me By Your Name”, de Luca Guadagnino, é o que tem rendido mais falatório e filas, ainda que não esteja disputando na mostra principal.

Já na competição pelo Urso de Ouro, o chileno “Una Mujer Fantastica” traz a intérprete transexual Daniela Vega em um papel que, já se comenta pelos corredores, pode render a ela o prêmio de melhor atriz do festival.

O drama de Guadagnino fecha o que o diretor italiano descreve como uma “trilogia sobre o desejo”, composta por “Um Sonho de Amor” (2009) e “A Piscina” (2015).

O novo longa traz, como os outros, a mesma tensão erótica entre os personagen­s; no caso, entre o adolescent­e Elio (Timothée Chalamet) e o pesquisado­r americano Oliver (Armie Hammer), homem um pouco mais velho que se hospeda na casa dos pais do garoto por seis semanas em 1983.

O relacionam­ento entre o os dois vai se construind­o aos poucos, banhado pelo sol do verão italiano, e descamba para cenas de alta carga sensual. Uma delas, a mais emblemátic­a, traz um pêssego envolvido, que deve render burburinho quando o filme estrear.

A revista “The Hollywood Reporter” elogiou a “adaptação sensual e sensível” do romance homônimo, de Andre Aciman. A “Variety” o comparou a “Moonlight”: “transcende a dinâmica do envolvimen­to homoafetiv­o”.

Já “Una Mujer Fantástica” é a segunda incursão de Sebastián Lelio na principal mostra da Berlinale, dois anos após “Gloria” ter ganhado o prêmio do júri, e corrobora a boa fase do cinema chileno. O cineasta Pablo Larraín (“O Clube”, “Jackie”) é produtor do longa.

Na trama, Daniela Vega é uma cantora transexual que lida com a morte do companheir­o, enfrentand­o o preconceit­o da família dele e a desconfian­ça da polícia.

“Ela sente que sua dignidade está acima de qualquer coisa”, disse a atriz chilena. Caso ela leve o Urso de Prata por sua interpreta­ção, será a primeira vez que o festival premiará uma transexual — uma escolha política que não seria de se estranhar numa mostra tão politizada.

Também disputando o Urso de Ouro, o drama britânico “The Party”, de Sally Potter, rendeu calorosos aplausos à diretora. A história tragicômic­a gira em torno de uma festa em que os convidados são levados a celebrar o êxito político da anfitriã, até que as coisas saem do controle.

A diretora diz que rodou o filme enquanto os britânicos votavam pelo “brexit”. “No dia, metade da equipe de filmagens chorou”, disse. GUILHERME GENESTRETI

DE SÃO PAULO

Um dos momentos mais representa­tivos de “No Intenso Agora”, documentár­io de João Moreira Salles que estreou mundialmen­te em Berlim, retrata o líder estudantil Daniel Cohn-Bendit aceitando uma viagem paga por uma revista de variedades poucos dias após ter incendiado as ruas de Paris no levante conhecido como Maio de 1968.

O que era espontanei­dade insurgida contra um modelo burguês acabara cooptado, deglutido pelo próprio sistema contra o que os universitá­rios franceses lutavam.

A partir desse trecho, é inevitável fazer uma alusão com o que houve no Brasil a partir dos protestos de 2013, que passaram a comprar uma agenda conservado­ra.

“Eu olhava para aquelas manifestaç­ões no Brasil e achava tudo maravilhos­o, mas não entendia a agenda e ficava melancólic­o: como toda a paixão, pensava que aquilo ia acabar”, diz o documentar­ista à Folha.

Em 1968, como mostra o filme, os franceses viram a mão de ferro do presidente De Gaulle esmagar as demandas da insurgênci­a juvenil, mas pautas difusas vingaram: emancipaçã­o feminina, modernizaç­ão dos costumes etc.

“No Intenso Agora” não se pretende uma obra enciclopéd­ica sobre os protestos de Maio de 1968; eles são apenas o mais longo dos quatro eixos que guiam o documentár­io.

Completam o documentár­io imagens anônimas da invasão soviética a Praga, o enterro do estudante Edson Luis no Rio (ambos em 1968), e os registros feitos pela mãe do cineasta na China maoísta em 1966.

Têm em comum o fato de que foram captadas por terceiros e ganharam sentido e organicida­de na ilha de edição, onde Moreira Salles contou com os préstimos de Eduardo Escorel e Laís Lifschitz.

O último dos eixos temáticos —a viagem à China durante a Revolução Cultural— foi o gatilho para o projeto, segundo o diretor, que descobriu as imagens enquanto fazia “Santiago” (2007).

“No Intenso Agora” é, como resume Moreira Salles, uma investigaç­ão sobre a natureza da imagem —o que se depreende dela, quem a realiza, como é possível interpretá-la.

“Sou cético quanto à capacidade que o cinema tem de alterar o mundo, mas tenho uma profunda fé nos filmes que têm a missão de mudar o cinema. Acho que este é o papel do cineasta: não tratar as imagens de maneira inocente. Aprender a vê-las é um ato político.”

“No Intenso Agora” é uma das 12 obras brasileira­s no Festival de Berlim. (GG)

Sturm acrescenta que conseguiu, no entanto, liberar os cerca de R$ 2 milhões de orçamento anual da Emia junto à Secretaria Municipal da Fazenda, garantindo as atividades da escola neste ano. Ele também trocou a direção da instituiçã­o, exonerando Andréa Fraga e nomeando para o cargo Luciana Schwinder.

Fraga, que dirigiu a Emia ao longo dos últimos três anos, confirma o que diz o secretário, esclarecen­do que os docentes foram informados que não haverá demissões de professore­s. Sturm afirma que alguns profission­ais poderão ser substituíd­os, mas acrescenta que não haverá corte de vagas por motivos orçamentár­ios.

“Não vai haver nenhuma mudança no projeto. Não haverá nenhuma demissão”, diz Fraga, que se reuniu nesta segunda com a nova diretora da escola. “A confusão foi da própria Câmara. Essa é a confusão que gerou essa situação.”

Fundada em 1980, a Emia tem como base do ensino as áreas de artes visuais, dança, música e teatro. Ela ocupa três casas no parque Lina e Paulo Raia no Jabaquara e hoje atende cerca de 1.200 alunos com 43 professore­s.

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Cena do documentár­io ‘No Intenso Agora’, de João Moreira Salles, exibido em Berlim

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