Ela foi criticada ao desafinar cantando “All I Ask”.
A lógica do Grammy é entediante. Vendeu muitos discos? Então vai ganhar muitos prêmios. Tudo bem, é uma festa da indústria, mas precisava deixar isso tão evidente?
Na cerimônia do prêmio, na noite de domingo (12), em Los Angeles, o chamado duelo de divas entre a inglesa Adele e a americana Beyoncé foi na verdade a disputa entre duas das maiores vendedoras de música do planeta.
“Lemonade”, de Beyoncé, é um disco mais interessante do que o fraco “25”, da rival, mas o placar de prêmios ficou em cinco a dois para Adele.
Adele ganhou mais prêmios porque parece ter ainda o maior crédito com a indústria fonográfica. As mais de 100 milhões de cópias que vendeu dos três álbuns de sua carreira tiveram papel fundamental na recuperação do mercado mundial de música, em crise no início da década.
Nas apresentações durante a festa, Adele fez o trivial, cantando sem nenhuma ajuda cênica a premiada “Hello” e uma versão melancólica e pavorosa de “Fastlove”, em homenagem a George Michael, morto no dia 25 de dezembro.
Ela interrompeu a música após desafinar e voltou a cantá-la desde o começo. Na festa do Grammy do ano passado, IEMANJÁ Comedida, passando boa parte de sua apresentação sentada numa cadeira, a grávida Beyoncé entupiu o palco de bailarinos, projeções de filmes e efeitos de luz, com roupa e “coroa” que a deixaram uma Iemanjá barriguda.
Numa noite dominada por cantoras, Rihanna não teve chance, perdendo nas oito categorias em que estava indicada. Katy Perry, fora das indicações e agora loira, lançou single novo em cima de um palco que não parava de se mexer e teve algum impacto.
Em rap e dance, os prêmi- os também reverenciaram os maiores vendedores. Drake e Chance the Rapper dividiram os gramofones dourados distribuídos para o rap. Chance levou como Artista Revelação, mas parece fogo de palha. A Melhor Gravação Dance foi para o Chainsmokers, meninos comportados consumidos por meninas comportadas.
Nos tributos, foi constrangedor o idealizado para os Bee Gees, com artistas de segunda categoria, como Demi Lovato e Little Big Town, uma espécie de versão americana e muito piorada do ABBA. Bom mesmo foi ver Bruno Mars fantasiado de Prince para uma ótima e respeitosa versão de “Let’s Go Crazy”.
Se alguém duvida que o rock morreu mesmo, o Grammy deu indicações claras. O finado David Bowie ganhou o prêmio de Melhor Performance de Rock, enquanto o troféu de melhor álbum do gênero foi parar com o Cage The Elephant, bandinha capenga que vende bem entre jovens americanos bebedores de cerveja.
Para completar a decadência roqueira, o microfone de James Hetfield ficou desligado durante metade da apresentação do Metallica com Lady Gaga. O encontro não precisava de ajuda para ser um desastre. Foi uma pantomima grosseira de clichês do heavy metal. Um velório para o rock. BIZZARICES “Blackstar”, o estranhíssimo mas canonizado disco derradeiro de Bowie, levou cinco prêmios, entre eles o de melhor álbum alternativo, categorização simplesmente inexplicável, e até o Grammy de Melhor Embalagem do Ano. Sério, tem isso na premiação.
As denominações das categorias ficam mais bizarras a cada temporada. Beyoncé ganhou em Melhor Álbum Urbano Contemporâneo, seja lá o que isso quer dizer. OUTROS PRÊMIOS
PERFORMANCE DE POP DUPLA/GRUPO
- Twenty One Pilots “Stressed Out”
ARTISTA REVELAÇÃO
Chance The Rapper