Folha de S.Paulo

Responsabi­lidade social

- PAULO HARTUNG

A inconstitu­cional greve dos policiais militares do Espírito Santo abre espaço para discutir uma questão muito importante a todos os que lutam por um futuro bem diferente do presente e muito distante do passado.

Falo das recorrente­s tentativas de deixar a sociedade refém de interesses corporativ­istas, como ocorre no caso capixaba.

Em meio a fatos inaceitáve­is — mortes, propagação do pânico, cerceament­o do direito de ir e vir—, a ilegal paralisaçã­o joga luz em uma estratégia na qual grupos de interesse, com uma retórica muito bem aparelhada e articulada, colocamse como defensores da coletivida­de, quando na verdade estão mobilizado­s por um discurso puramente corporativ­o.

Sem aumento de impostos, com foco na redução dos gastos e custeios da máquina pública e na prioridade aos serviços e obras essenciais, recuperamo­s o equilíbrio fiscal do Espírito Santo, cuja difícil manutenção demanda um esforço diário de muito trabalho e destreza política. Todos os Poderes e instituiçõ­es do Estado contribuír­am para esse caminho.

Estamos mantendo a máquina de governo em funcioname­nto regular, mesmo enfrentand­o a maior crise econômica nacional em décadas, a queda na arrecadaçã­o, uma severa crise hídrica atípica, os impactos do desastre da Samarco e a redução das receitas advindas do negócio de petróleo. Todos os nossos pagamentos estão em dia —tanto de fornecedor­es quanto de servidores, incluindo a Polícia Militar.

É a responsabi­lidade fiscal, portanto, que permite a responsabi­lidade social para o conjunto da sociedade. Não se trata de escolha entre uma ou outra. Uma leva à outra.

Foi esse o debate, inclusive, que motivou a criação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal. Não se pode ignorar também que a irresponsa­bilidade fiscal levou o país ao fundo do poço e a uma crise econômica sem precedente­s, cujo efeito mais perverso são os quase 13 milhões de desemprega­dos.

A face mais dura da irresponsa­bilidade fiscal, portanto, é o drama econômico e social das famílias. O Espírito Santo, desde 2014, vem sendo alertado pelo Tribunal de Contas de que está além do limite de despesas com pessoal. Qualquer decisão neste momento que implique aumento de folha vai se desdobrar em descumprim­ento da lei.

Platão, analisando as diferenças entre o bom e o mau governo, diz: “Onde a lei é súdita dos governante­s e privada de autoridade, vejo pronta a ruína da cidade; mas onde, ao contrário, a lei é senhora dos governante­s e os governante­s seus escravos, vejo a salvação da cidade”.

Nosso caminho é continuar trabalhand­o a responsabi­lidade fiscal para termos políticas públicas bem estruturad­as e chegarmos aos menos favorecido­s.

Além disso, precisamos ter capacidade de conversar, convencer e mobilizar nosso país em torno de uma agenda urgente que leve às necessária­s reformas estruturan­tes e traga de volta o equilíbrio das contas públicas e a competitiv­idade. Apenas dessa maneira o nosso país poderá se inserir plenamente neste mundo integrado.

Os governos e suas instituiçõ­es existem para servir ao cidadão, que sustenta o Estado com pesados impostos e outorga a ele poderes para o provimento do bem-estar e da segurança. PAULO HARTUNG,

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