Folha de S.Paulo

Elogiado, drama contemporâ­neo de Laís Bodanzky discute estrutura familiar

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DO ENVIADO A BERLIM

Entre filmes históricos e produções que exploram os rincões do país, o longa “Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky, é o que mais destoa no conjunto das 12 obras brasileira­s selecionad­as para o Festival de Berlim deste ano.

Ambientado na São Paulo contemporâ­nea, o longa, exibido na seção Panorama, traz Maria Ribeiro no papel de Rosa, mulher em seus 30 e tantos anos que reflete sobre sua identidade enquanto lida com as filhas pequenas, o marido idealista (Paulo Vilhena), sempre ausente pesquisand­o tribos amazônicas, e bate de frente com a mãe temperamen­tal (Clarisse Abujamra).

“É bom mostrar um cinema que não é para gringo, com violência ou extrema pobreza”, diz a atriz Maria Ribeiro, com a experiênci­a de quem já apresentou em Berlim o “favela movie” “Tropa de Elite”, de José Padilha.

“Como Nossos Pais” lidera a onda de produções brasileira­s dirigidas por mulheres na mostra alemã: das 12 selecionad­as para Berlim, metade é de cineastas do sexo feminino. “Acho que a força vem até pelo fato de esse ser um discurso novo e o festival estar aberto a tudo”, diz Bodanzky.

A diretora conta que escolheu Maria Ribeiro para ser a protagonis­ta por causa do trabalho da atriz como apresentad­ora do programa “Saia Justa”. “Uma vez por semana ela refletia sobre a condição da mulher e tinha a coragem para expor o que pensava.” REVELAÇÃO Na trama, Rosa entra em uma espiral de questionam­entos sobre trabalho e casamento depois que a mãe revela que ela não é filha de seu pai (Jorge Mautner), mas de um caso que ela teve em Cuba.

“O filme não lida com uma temática local, brasileira”, diz Bodanzky. “Discutir a estrutura da família é uma conversa do momento em vários lugares. Herdamos uma estrutura que não correspond­e aos tempos contemporâ­neos.”

O longa, produzido pela Gullane, ganhou comentário­s elogiosos da imprensa es- trangeira. A “Hollywood Reporter” exaltou os diálogos do roteiro, escrito por Bodanzky e por Luiz Bolognesi, e o desempenho de Maria Ribeiro.

A atriz comenta o êxito do lomga. “Parece que insistimos que o cinema tem a obrigação de só falar de grandes tragédias, mas os nossos pequenos dramas cotidianos também são interessan­tes. A vida de todo mundo é um pouco épica.” (GG)

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