Folha de S.Paulo

Contra Trump, México se reunirá com países do Mercosul

Encontro previsto para março deve contar também com outros membros da Aliança do Pacífico; chanceler brasileiro vê oportunida­de

- IGOR GIELOW

O México e seus parceiros no bloco Aliança do Pacífico decidiram estreitar os laços com o Mercosul, no primeiro movimento prático na região de reação à animosidad­e do governo americano sob Donald Trump em relação ao vizinho latino ao sul de sua fronteira.

Em reunião entre o chanceler brasileiro, José Serra, e seu colega mexicano, Luis Videgaray, ficou acertado que os dois blocos vão fazer uma primeira reunião em Buenos Aires, no dia 10 de março, provavelme­nte.

Eles se encontrara­m nesta sexta-feira (17) em Bonn (Alemanha), onde participam de reunião de ministros de Relações Exteriores do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo).

A Aliança do Pacífico reúne México, Chile, Colômbia e Peru. O Mercosul, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela —embora este último esteja rompido com os líderes do grupo.

“Foi muito bom. Ele nos agradeceu muito pela nota de apoio”, disse Serra por telefone à Folha, referindo-se ao comunicado do Itamaraty que criticou a intenção de Trump de construir um muro longo de sua fronteira com o México para barrar imigrantes ilegais.

Mas são os planos econômicos do americano que empurram o México rumo ao sul. Trump já afirmou que quer rever termos do Nafta, o acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá que impulsiono­u a economia do país latino nas últimas duas décadas: hoje a nação concentra 2% do comércio mundial, o dobro do Brasil.

Além do acordo entre blocos, Serra convidou Videgaray a visitar Brasília para discutir negócios bilaterais.

Hoje, o Brasil tem apenas dois acordos de comércio com o México, um automotivo que vai até 2019 e outro que reúne 800 produtos.

O Brasil já tem acordos de livre comércio com países an- dinos, Chile, Peru e Colômbia, que também são membros associados do Mercosul.

A guinada isolacioni­sta de Trump animou o Itamaraty. Ao ameaçar o México e após se retirar da Parceria Transpacíf­ico, o governo americano abriu a porta para ofertas de ocasião.

Entre 2008 e 2014, o Brasil registrava forte deficit na relação comercial com o México. A situação agora é de estabilida­de, com US$ 3,8 bilhões exportados e US$ 3,5 bilhões importados por ano.

Além disso, na Alemanha, Serra ouviu a proposta russa de ampliar o escopo dos Brics, o grupo que une os dois países, China, Índia e África do Sul, feita pelo chanceler Serguei Lavrov.

Apelidado de “Brics Plus”, o arcabouço para atração de novos membros não está claro, mas se encaixa na lógica de reforço de blocos menores em um momento em que o sistema multilater­al muito amplo está em xeque pelo novo direcionam­ento dos Estados Unidos.

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