ANÁLISE Sai do poder um populista, mas o populismo continuará vivo
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FOLHA
As eleições de domingo (19) no Equador concretizam o fim de mais um líder populista, no caso Rafael Correa, há 10 anos no poder, mas estão longe de representar também o fim do populismo, essa característica tão marcante da América Latina.
É paradoxal, aliás, a ascensão de populistas como Donald Trump nos EUA e outros líderes dessa estirpe na Europa, exatamente no momento em que parecem em declínio no seu principal celeiro.
No Equador, o populismo de Correa teve efeitos estabilizadores inegáveis: nos dez anos anteriores a ele, houve oito presidentes. Ele, ao contrário, ficou no poder durante os dez anos seguintes.
Seu candidato, Lenín Moreno, tem cerca de um terço dos votos, segundo as pesquisas. Supera qualquer adversário. É razoável supor, no entanto, que os dois terços restantes darão a vitória à oposição no segundo, provavelmente ao banqueiro Guillermo Lasso.
Há duas maneiras de olhar a provável derrota do populismo no Equador. Shannon O’Neil, competente analista de América Latina, escreve: “A história mostra que o populismo polariza sociedades, enfraquece as economias e mina a democracia representativa”. Não é bem assim: a polarização, de fato, é evidente em todos os países que têm ou tiveram governos populistas, Brasil inclusive. Mas nem sempre a economia se enfraqueceu. No Equador, até 2015, os anos Correa foram de bonança, a ponto de só registrar recessão em 2016.
Quanto à democracia representativa, Correa limitou a liberdade de expressão, o que é lamentável, mas não basta para rotular seu reinado como uma ditadura.
O lado positivo, que dá vida ao populismo, é o esforço social: no caso do Equador, a pobreza caiu de 49,1% em 2003 para 27,3% em 2012. Criou, com isso, um reservatório de votos, ainda majoritário, embora talvez não suficiente para assegurar a vitória.
Caberá a Lasso, se ganhar, assim como ao argentino Mauricio Macri, provar que não-populistas podem fortalecer a economia e a democracia, sem esquecer a massa de deserdados que continua como a veia aberta da América Latina, para citar o uruguaio Eduardo Galeano, morto há dois anos.