Folha de S.Paulo

Em turnê pelo Oriente, Doria vende SP como cidade-Estado

- DIOGO BERCITO

A luz do saguão do hotel St. Regis, em Doha, está fraquinha demais. É um problema para o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que quer gravar ali um de seus populares vídeos de Facebook.

O tucano acaba de se reunir com um investidor, que com paciência espera a iluminação ser corrigida. A equipe do hotel é acionada, nada acontece. Um funcionári­o da prefeitura recorre ao flash. Clic. Apertos de mão.

A viagem do prefeito, seu primeiro giro internacio­nal desde a posse, se encerrou na sexta (17) após reuniões encavalada­s com bancos, fundos e autoridade­s locais, registrada­s nas redes sociais.

Foram escassas as pausas entre Dubai, Abu Dhabi e Doha. Em um dos dias, Doria almoçou duas vezes, para participar de duas reuniões.

A meta do tucano era convencer investidor­es árabes a participar de um programa de desestatiz­ação com 55 lotes em São Paulo, incluindo o autódromo de Interlagos, o Anhembi e o Ibirapuera.

O pacote, excluindo a PPP (parceria público-privada) da iluminação, tem potencial de R$ 7 bilhões, segundo o prefeito —que anunciou na sexta estar em busca de bancos nacionais e estrangeir­os para mediar os investimen­tos.

Ele reuniu-se com um representa­nte do Credit Suisse na sua última tarde no Golfo.

Doria fez papel de empresário, político e diplomata, apresentan­do São Paulo como um tipo de cidade-Estado brasileira. A área metropolit­ana representa 18% do PIB nacional e, a julgar pela publicidad­e, oferece uma cornucópia de oportunida­des.

A ideia de que um município possa liderar o território tem algum equivalent­e no Golfo, aonde o prefeito tucano chegou no último dia 12.

Doha, a capital do Qatar, concentra mais de metade da população do país. Os emirados de Dubai e Abu Dhabi, por sua vez, têm altíssimo grau de autonomia.

Doria mediou não só negócios na capital, mas também no Estado. Fundos se interessar­am pela agricultur­a e o recado foi passado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Em uma reunião no Minis- tério da Economia, a conversa relou também em um acordo de facilitaçã­o de investimen­tos entre os países. “Foi além dos interesses da cidade”, afirmou o prefeito.

Para Roberto Abdalla, embaixador brasileiro em Doha, a participaç­ão da prefeitura nessas discussões “não é atípica”. Tanto Abdalla quanto o embaixador nos Emirados, Paulo Cesar Meira de Vasconcell­os, acompanhar­am Doria durante reuniões. CONFLITO Doria foi convidado aos Emirados Árabes por um fórum de governança, onde discursou. Já a ida ao Qatar foi paga pelo governo de Doha.

A prefeitura apresentou o “road show” como uma oportunida­de sem custos. O prefeito foi acompanhad­o por apenas um assessor e um ajudante de ordens, que assumiram também o papel de fazer foto e vídeo para as redes.

Questionad­o pela Folha, Doria disse não haver conflito de interesse em ter aceito a viagem. No caso do Qatar, parte das reuniões foram feitas com o governo.

Rodrigo Matheus, conselheir­o do Instituto dos Advogados de São Paulo afirmou não ver irregulari­dades na questão. Caso o anfitrião não pagasse, disse, o custo seria do contribuin­te.

O tucano hospedou-se, em Dubai, no hotel Jumeirah Al Naseem. Uma estimativa de diária para a semana que vem varia de R$ 2.100 a R$ 20 mil. O preço é semelhante em Doha, no St. Regis, que tem suíte presidenci­al de dois andares por R$ 39 mil.

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Diogo Bercito/Folhapress Doria em reunião nos Emirados Árabes; prefeito de SP viajou a convite de um fórum e do governo e aproveitou para buscar investidor­es para a cidade

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