Avanço de 2 doenças sobrecarrega saúde
Cidades de Minas Gerais têm dificuldade para conseguir diferenciar pacientes com dengue e com febre amarela
Infestação do mosquito
também gera preocupação de que casos silvestres cheguem à área urbana
Em uma das regiões mais atingidas pelo surto de febre amarela em Minas Gerais, duas cidades vizinhas enfrentam a suspeita do avanço de outro inimigo: a dengue.
Em Novo Cruzeiro, com 31 mil habitantes no leste do Estado, 33 casos suspeitos da doença já foram notificados.
Além da evolução do quadro de dengue, segundo a coordenadora de vigilância, Michelle Castro, a maioria desses pacientes já estava vacinada contra febre amarela.
Em Setubinha, onde a prefeitura já fala em surto de dengue, são 91 casos da doença neste ano, alguns com diagnóstico positivo em exames.
Para os municípios, a possibilidade de avanço da dengue em meio à epidemia de febre amarela indica um peso extra no sistema de saúde e gera alerta devido à dificuldade em diferenciar as duas doenças no início dos sintomas.
A preocupação ocorre principalmente porque a febre amarela pode evoluir mais rapidamente para quadros graves, com um alto índice de letalidade (cerca de 45%).
O país já registrou neste ano 236 casos confirmados de febre amarela (incluindo 89 mortes) e há outros 882 em investigação, no pior surto da doença desde 1980. Ao todo, 86% foram em Minas Gerais.
No início, vários casos nessas cidades mineiras chegaram a ser tratados como dengue —mas não eram. Agora, os municípios dizem suspeitar também do oposto.
“É fundamental estruturar o serviço público para fazer o diagnóstico laboratorial precoce”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, Artur Timerman, para quem é quase “impossível” fazer a distinção das duas doenças apenas com avaliação clínica.
“Na fase em que a pessoa fica amarela, com icterícia, a febre amarela é fácil de distinguir. Mas tem cerca de 50% dos casos que não evoluem para formas graves e podem ser confundidos”, explica.
“Se achar que um caso de febre amarela é dengue, perde-se a oportunidade de fazer a vacinação de contenção. Não se pode ter essa dúvida se é um ou outro.”
Municípios e a Secretaria de Saúde, porém, dizem que todos os casos estão sendo direcionados para exames — tanto os notificados para febre amarela quanto por dengue. O tempo para a avaliação não foi informado. AEDES À VISTA Em Novo Cruzeiro, dois fatores reforçam a suspeita de avanço da dengue.
O primeiro é o aumento no índice de infestação do Aedes aegypti. Enquanto em outubro 4,6% das casas visitadas tinham focos com larvas do mosquito, em janeiro esse índice subiu para cerca de 8% —ambos em padrão considerado de risco de epidemia.
Outro fator é que, na última semana, ao menos cinco casos suspeitos de febre amarela tiveram resultado negativo para a doença em exames e devem, agora, ser checados novamente para dengue.
A situação ainda desperta o temor de que os casos de febre amarela, até então silvestres, cheguem à área urbana devido à presença de aedes —na área rural, a doença é transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.
“É essa nossa questão. O aedes está com tudo. Se pica um paciente com alta viremia de febre amarela que chega para receber atendimento no Novo Cruzeiro População: 31 mil hab. Área: 1.703 km² IDHM: 0,571 (baixo) Casas com larva do Aedes aegypti, em %** hospital, há risco de febre amarela urbana”, diz Castro.
Para evitar o problema, a cidade tenta encontrar soluções para manejo do lixo, considerado um dos principais focos de aedes, enquanto intensifica a busca por moradores ainda não vacinados contra febre amarela.
Membros da Força Nacional do SUS também criaram fluxos para ajudar a tentar diferenciar os casos.
Igor, 14, foi diagnosticado com dengue. Assim que teve os primeiros sinais de febre e dores de cabeça, a família, no entanto, suspeitou inicialmente de febre amarela.
Com medo da doença, a mãe, Maria Emília Fernandes, 49, correu para ver se o cartão de vacinação do filho estava mesmo atualizado. “Era o único da família que já tinha as doses da vacina contra febre amarela em dia.”
Ainda assim, Igor só foi liberado do hospital após melhora completa dos sintomas. 4,6