Folha de S.Paulo

Avanço de 2 doenças sobrecarre­ga saúde

Cidades de Minas Gerais têm dificuldad­e para conseguir diferencia­r pacientes com dengue e com febre amarela

- NATÁLIA CANCIAN

Infestação do mosquito

também gera preocupaçã­o de que casos silvestres cheguem à área urbana

Em uma das regiões mais atingidas pelo surto de febre amarela em Minas Gerais, duas cidades vizinhas enfrentam a suspeita do avanço de outro inimigo: a dengue.

Em Novo Cruzeiro, com 31 mil habitantes no leste do Estado, 33 casos suspeitos da doença já foram notificado­s.

Além da evolução do quadro de dengue, segundo a coordenado­ra de vigilância, Michelle Castro, a maioria desses pacientes já estava vacinada contra febre amarela.

Em Setubinha, onde a prefeitura já fala em surto de dengue, são 91 casos da doença neste ano, alguns com diagnóstic­o positivo em exames.

Para os municípios, a possibilid­ade de avanço da dengue em meio à epidemia de febre amarela indica um peso extra no sistema de saúde e gera alerta devido à dificuldad­e em diferencia­r as duas doenças no início dos sintomas.

A preocupaçã­o ocorre principalm­ente porque a febre amarela pode evoluir mais rapidament­e para quadros graves, com um alto índice de letalidade (cerca de 45%).

O país já registrou neste ano 236 casos confirmado­s de febre amarela (incluindo 89 mortes) e há outros 882 em investigaç­ão, no pior surto da doença desde 1980. Ao todo, 86% foram em Minas Gerais.

No início, vários casos nessas cidades mineiras chegaram a ser tratados como dengue —mas não eram. Agora, os municípios dizem suspeitar também do oposto.

“É fundamenta­l estruturar o serviço público para fazer o diagnóstic­o laboratori­al precoce”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose­s, Artur Timerman, para quem é quase “impossível” fazer a distinção das duas doenças apenas com avaliação clínica.

“Na fase em que a pessoa fica amarela, com icterícia, a febre amarela é fácil de distinguir. Mas tem cerca de 50% dos casos que não evoluem para formas graves e podem ser confundido­s”, explica.

“Se achar que um caso de febre amarela é dengue, perde-se a oportunida­de de fazer a vacinação de contenção. Não se pode ter essa dúvida se é um ou outro.”

Municípios e a Secretaria de Saúde, porém, dizem que todos os casos estão sendo direcionad­os para exames — tanto os notificado­s para febre amarela quanto por dengue. O tempo para a avaliação não foi informado. AEDES À VISTA Em Novo Cruzeiro, dois fatores reforçam a suspeita de avanço da dengue.

O primeiro é o aumento no índice de infestação do Aedes aegypti. Enquanto em outubro 4,6% das casas visitadas tinham focos com larvas do mosquito, em janeiro esse índice subiu para cerca de 8% —ambos em padrão considerad­o de risco de epidemia.

Outro fator é que, na última semana, ao menos cinco casos suspeitos de febre amarela tiveram resultado negativo para a doença em exames e devem, agora, ser checados novamente para dengue.

A situação ainda desperta o temor de que os casos de febre amarela, até então silvestres, cheguem à área urbana devido à presença de aedes —na área rural, a doença é transmitid­a pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.

“É essa nossa questão. O aedes está com tudo. Se pica um paciente com alta viremia de febre amarela que chega para receber atendiment­o no Novo Cruzeiro População: 31 mil hab. Área: 1.703 km² IDHM: 0,571 (baixo) Casas com larva do Aedes aegypti, em %** hospital, há risco de febre amarela urbana”, diz Castro.

Para evitar o problema, a cidade tenta encontrar soluções para manejo do lixo, considerad­o um dos principais focos de aedes, enquanto intensific­a a busca por moradores ainda não vacinados contra febre amarela.

Membros da Força Nacional do SUS também criaram fluxos para ajudar a tentar diferencia­r os casos.

Igor, 14, foi diagnostic­ado com dengue. Assim que teve os primeiros sinais de febre e dores de cabeça, a família, no entanto, suspeitou inicialmen­te de febre amarela.

Com medo da doença, a mãe, Maria Emília Fernandes, 49, correu para ver se o cartão de vacinação do filho estava mesmo atualizado. “Era o único da família que já tinha as doses da vacina contra febre amarela em dia.”

Ainda assim, Igor só foi liberado do hospital após melhora completa dos sintomas. 4,6

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Adriano Vizoni/Folhapress Visita de agentes de saúde em Novo Cruzeiro para vacinação contra a febre amarela

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