Folha de S.Paulo

‹ Rossoni diz que uso de sala não foi irregular

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A Procurador­ia-Geral de Justiça e o Ministério Público do Paraná investigam o suposto envolvimen­to do braço direito do governador Beto Richa (PSDB), o também tucano Valdir Rossoni, em esquema que teria desviado ao menos R$ 17 milhões da construção de escolas estaduais.

Rossoni, que é chefe da Casa Civil do Estado, nega envolvimen­to em irregulari­dades.

As investigaç­ões indicam que as construtor­as contratada­s fraudavam medições de obras para conseguir a liberação de recursos da secretaria. Paralisada­s, as obras afetam a vida de pelo menos 50 mil estudantes, segundo o Ministério Público.

A reportagem teve acesso a documentos em análise na Procurador­ia. São indícios reunidos por funcionári­os da construtor­a Valor —principal agente dos desvios—, que agora colaboram com a Justiça. O caso corre em sigilo.

Segundo a apuração, uma das empresas investigad­as operava no mesmo endereço do escritório político de Rossoni, no edifício Palladion.

No 20º andar, funcionava a PB Construtor­a, empresa de fachada do mesmo dono da Valor, segundo registro na Junta Comercial.

No registro de imóveis, o escritório de Rossoni estava em nome da J4RL Holding, de Jeferson Furlan Nazário. Ele é dono da Embrasil, que presta serviço de segurança na Assembleia Legislativ­a do Paraná desde 2011 —início do mandato de Rossoni na presidênci­a da Casa.

A PB teria funcionado entre julho de 2013 e dezembro de 2014. A suspeita é que Rossoni também usaria a sala nesse período. Ele alugou o imóvel três meses depois, com Nazário como fiador. O con- trato acabou quando Rossoni foi para a Casa Civil, mas funcionári­os do prédio dizem que ele continuou usando a sala.

A J4RL recebeu pelo menos três pagamentos da Valor em 2012, que somam R$ 10 mil. O motivo dos depósitos também está sendo investigad­o.

As primeiras obras da construtor­a começaram e foram concluídas em Bituruna, reduto de Rossoni, quando seu filho, Rodrigo, era prefeito.

A partir de então, a empresa começou a vencer licitações estaduais. Em depoimento ao Ministério Público, a responsáve­l pelos pagamentos à Valor, Nilda Mattos Guerner, disse que estranha- va a construtur­a vencer todas as concorrênc­ias do governo.

“Dava desconto de 25%. Eu me dava bem com a presidente da comissão de licitação e a gente sempre comentava, né, como é que ela faz essas obras”, depôs Guerner.

Ela afirmou também que recebia ligações de gabinetes de deputados para pressionar a liberação de pagamentos — citou Rossoni e o atual presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB). Disse, porém, que as ligações não partiam dos parlamenta­res.

Outro indício é um trecho do depoimento do ex-diretor da Secretaria da Educação, Maurício Fanini. Ele disse que foi Rossoni quem o apresentou ao dono da Valor, Eduardo Lopes de Souza.

Em uma escola em que as medições foram fraudadas, a medição indica que a obra estava 24% concluída um dia depois após o trabalho começar. Com isso, a empreiteir­a conseguiu a liberação da verba correspond­ente à entrega.

O governo liberou oito aditivos para os contratos da Valor em um só dia, o que encareceu as obras em mais de R$ 6 milhões, de acordo com a investigaç­ão.

Para concluir as obras —a maioria, no nível do chão—, o Estado planeja abrir novas licitações, sem data definida.

COLABORAÇíO PARA A EM CURITIBA

FOLHA,

Chefe da Casa Civil do Paraná, Valdir Rossoni afirmou que alugou a sala comercial de modo legal e não tinha conhecimen­to do funcioname­nto da PB Construtor­a no local.

Disse ainda que as obras da Valor em Bituruna foram fiscalizad­as, sem indícios de irregulari­dades, e entregues de modo satisfatór­io. E que não apresentou o dono da Valor, Eduardo Lopes de Souza, a Maurício Fanini, diretor da Secretaria da Educação, com quem nega que tenha conversado sobre obras.

Ele também negou que tenha telefonado de seu gabinete para cobrar pagamentos das obras de escolas.

Jeferson Nazário informou que emprestou a sala para a PB Construtor­a receber correspond­ências como um favor a Souza, que considerav­a amigo, mas o negócio nunca funcionou no local.

Sobre os pagamentos da Valor para a J4RL, Nazário disse que teriam sido pelo serviço de consultori­a administra­tiva prestado por funcionári­a. O empresário negou irregulari­dade na prestação de serviços à Assembleia e disse conhecer Rossoni há anos. Negou que o parlamenta­r utilizasse sua sala para reuniões.

Souza e Traiano não respondera­m. O advogado de Fanini afirmou não ter nada a esclarecer além do dito em interrogat­ório. A defesa dos funcionári­os da Valor disse que só se manifesta nos autos.

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Ricardo Almeida - 17.mai.2011/AENoticias/Divulgação O chefe da Casa Civil do Paraná, Valdir Rossoni (PSDB)

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