Folha de S.Paulo

Denúncias de indícios de fraude pressionam governo

Opositores e observador­a apontam problemas no registro eleitoral do Equador

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Cadastro tinha mortos, mas governo alega que caso foi resolvido; outra acusação menciona cédulas manipulada­s

“Não é o número de indecisos que vai definir essa eleição, mas sim se vai haver fraude ou não”, disse à Folha Néstor Jaramillo, 44, após votar na escola Quintilian­o Sanchez, em Quito. A mesma preocupaçã­o foi ouvida pela reportagem em distintos pontos de votação visitados.

“É simples, nós vamos saber logo, caso não tenhamos um resultado que aponte para um segundo turno, terá havido fraude”, disse, depois que votou, o candidato a vice Ramiro Aguilar, do partido Fuerza Ecuador, de oposição.

O que pode parecer apenas uma estratégia de campanha dos oposicioni­stas ganhou contornos mais concretos quando, há duas semanas, o candidato Guillermo Lasso pediu pelas redes sociais que quem tivesse familiares mortos recentemen­te checasse se os nomes tinham sido retirados do registro eleitoral.

O resultado expôs que muitos ainda figuravam na lista, obrigando o presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Juan Pablo Pozo, a admitir erros no registro, que passaria então por um ajuste.

Mas Pozo minimizou o problema: “Uma coisa é que existam esses erros e que essas pessoas continuass­em registrada­s depois de mortas, outra seria se tivéssemos concluído que votaram”.

O caso, porém, fez surgirem mais acusações, e a agrupação política Sociedade Patriótica apresentou diante do Tribunal Eleitoral uma denúncia, dizendo que o cadastro eleitoral contém mais erros dos que os detectados recentemen­te, pois estariam contabiliz­ados também pessoas desapareci­dos e migrantes não regulariza­dos.

Representa­ntes deste mesmo partido já haviam feito a denúncia na eleição passada, e o caso ficou em aberto. Alegam que, caso esses números sejam corrigidos, o número de eleitores poderá cair em centenas de eleitores. ‘PROCESSO VICIADO’ A “sombra da fraude” voltou a ganhar força na sextafeira (17), quando a ex-presidente do Tribunal Eleitoral da Venezuela Ana Mercedes Díaz, que está no Equador como observador­a do pleito, afirmou a uma emissora de TV colombiana que o processo estava “totalmente viciado” e que uma “fraude eleitoral” estaria preparada.

Segundo a observador­a, o fato de o registro nacional de eleitores estar desatualiz­ado era apenas uma das evidências. Também contariam no suposto esquema a manipulaçã­o de cédulas no momento da votação.

A eleição no Equador não é eletrônica. O votante recebe cédulas independen­tes para cada escolha —a de presidente e vice, a de membro da As- sembleia Nacional, a do representa­nte de sua Assembleia­s Regional e a do representa­nte no Parlamento Andino.

Depois da entrevista, Díaz, que tinha planejado dar uma conferênci­a sobre o assunto, conta que foi ameaçada de prisão e, por isso, dirigiu-se à embaixada dos EUA em Quito —ela também é cidadã norte-americana.

À agência Associated Press, a embaixada confirmou que Díaz ingressou no local e que agora estudava como deveria deixar o país.

Pozo novamente negou irregulari­dades. Disse que a denúncia de Díaz era parte de uma “campanha de difamação” e que suas declaraçõe­s eram “irresponsá­veis e inadmissív­eis”.

(SYLVIA COLOMBO)

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Dolores Ochoa/Associated Press Eleitor com criança vota em uma seção eleitoral de Quito

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