Folha de S.Paulo

Grupos pró e contra Trump levam política às compras

Militantes criam disputa em torno de lojas e marcas ligadas ao presidente Trump vs. Francisco Jesuíta

- ISABEL FLECK

Produtos são boicotados ou têm ganho de vendas a partir da associação com o republican­o e seus familiares

Com dólares nas mãos, seis mulheres entram numa loja Nordstrom em Chandler, no Arizona, para cancelar suas contas. Uma delas chega no caixa e anuncia: “Por causa da sua decisão de descartar Ivanka Trump, eu não vou mais comprar na sua loja”. “Nem meu marido, nem nossos nove filhos e oito netos”, completa Laurie Ray, que diz ter sido funcionári­a da marca e, por 30 anos, sua cliente.

A ação, na última semana, foi toda gravada e o vídeo viralizou nas redes sociais. Segundo Jeannie Guthrie, que também participou do ato em protesto, a intenção era que o vídeo fosse divulgado só entre os amigos e as famílias, mas seu sucesso é prova de como também comprar virou um ato político durante o governo Trump.

A Nordstrom virou o principal alvo dos apoiadores de Trump depois que ele escreveu numa rede social que Ivanka tinha sido tratada “injustamen­te” pela marca, que parou de vender a linha de roupas e acessórios da filha.

A polêmica ainda envolveu uma das principais assessoras de Trump, Kellyanne Conway, que em entrevista ao vivo pediu que as pessoas continuass­em comprando os produtos da filha do presidente.

A Nordstrom justificou a decisão dizendo que os vestidos, sapatos e bolsas de Ivanka vendiam pouco (teriam caído 32% no último ano).

Para a família Trump, contudo, a marca teria se rendido a um movimento de boicote, divulgado nas redes sociais sob a hashtag #grabyourwa­llet (agarre sua carteira, em inglês), numa referência à frase “grab them by the pussy”, dita por Trump há alguns anos —quando afirmou que “agarrava” as mulheres por suas partes íntimas. LISTA NEGRA No site para divulgar o boicote, que teve início antes mesmo da eleição, são listadas as “dez principais empresas” a serem evitadas, entre elas Macy’s, Bloomingda­le’s, Amazon e Bed, Bath and Beyond —todas por “venderem produtos da família Trump”.

Há, no entanto, mais de 50 empresas “fichadas”, seja por comerciali­zar a marca Trump, seja por um de seus representa­ntes ter apoiado o presidente de alguma forma.

Segundo os organizado­res do boicote, pelo menos 19 empresas teriam cortado sua ligação com Trump e com marcas de sua família.

O Uber também se tornou alvo após ser acusado de tentar lucrar quando taxistas de Nova York pararam em meio a protestos contra o decreto de Trump que vetava a entrada no país de refugiados e imigrantes.

Movimentos como esse, porém, geraram reações tão enfurecida­s quanto, sob hashtags como #buyivanka (compre Ivanka). Quem não aderiu ao boicote anti-Trump foi então premiado por apoiadores do presidente. PERFUME E DISCO O perfume Ivanka Trump, de US$ 39, se tornou o produto de beleza mais vendido na última semana na Amazon. No mesmo site, a cantora Joy Villa viu seu álbum “I Make the Static” ser catapultad­o da posição 534.202 para a 2ª posição —à frente do popstar Bruno Mars— entre os álbuns mais baixados, após usar um vestido com o slogan de Trump “Make America Great Again” na premiação do Grammy.

Bezos também O dono da Amazon e do “Washington Post” lançou a frase num evento do jornal, em maio: “A democracia morre no escuro”. Ela ressurgiu colada ao logotipo no perfil do “WP” no Snapchat e irá, como slogan, para todas as suas plataforma­s.

Há duas semanas, o “NYT” deu reportagen­s de Jason Horowitz sobre a ligação do conselheir­o-chefe de Trump, Steve Bannon, e de seu site de extremadir­eita, “Breibart”, com os católicos ultraconse­rvadores que estão atacando o papa, em Roma. O “WP” ecoou e detalhou.

Ruptura No “Financial Times”, sobre a “disrupção de Hollywood” e do Oscar por Amazon e Netflix: “Em vez de entregar seu dinheiro aos estúdios, como os ingênuos ‘players’ internacio­nais fizeram antes deles, os serviços se estabelece­ram como concorrent­es”.

Na última semana, partiram para o contra-ataque o “Breibart”, com referência­s tortuosas a jesuítas, inclusive o papa Francisco, e depois o colunista mais conservado­r do próprio “NYT”, Ross Douthat, chamando as reportagen­s de teoria conspirató­ria —mas que pode até dar certo, no fim.

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Brendan McDermid - 2.fev.2017/Reuters Ato contra a Uber em NY; empresa foi acusada de tentar lucrar em meio à disputa política
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» FIM? Em reportagem na “Vanity Fair”, “Por que Hollywood como nós a conhecemos já acabou”

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