Folha de S.Paulo

Reforma é mais rígida que a de países ricos

Tempo mínimo de contribuiç­ão de 25 anos para aposentado­ria proposto pelo governo supera média da OCDE

- FERNANDA PERRIN

Proporção do benefício em relação à renda do trabalhado­r no Brasil, porém, é superior à observada lá fora

Se aprovada nos termos atuais, a reforma da Previdênci­a vai colocar o Brasil entre os países com regras mais rígidas para aposentado­ria.

Pela proposta do governo, quem contribuir por menos de 25 anos não terá direito a se aposentar mesmo que alcance a idade de 65 anos.

Em outros países é possível se aposentar com tempo menor de contribuiç­ão, mas o benefício pode ser menor que o salário mínimo, o que não é permitido no Brasil.

Cumpridos os 25 anos, o brasileiro receberá 76% do benefício. O valor integral só será pago a quem trabalhar 49 anos, regra também mais dura que de outros países.

Hoje, brasileiro­s se aposentam após contribuir por 30 anos (mulheres) ou 35 anos (homens). Quem não consegue atingir essa regra pode se aposentar por idade (mulheres de 60 anos e homens de 65 anos), desde que tenha contribuíd­o por 15 anos.

Marcelo Caetano, secretário da Previdênci­a, afirma que a proposta de reforma está no “meio do caminho” entre os dois sistemas atuais.

A justificat­iva do governo para a reforma é o aumento da proporção de idosos em relação à de jovens.

Países que já passaram por essa transição demográfic­a têm regras mais flexíveis. Na OCDE, grupo dos países mais desenvolvi­dos do mundo, um trabalhado­r consegue o benefício integral após contribuir em média por 44 anos.

O tempo mínimo para ter acesso a algum percentual da aposentado­ria também é menor. Na Alemanha, por exemplo, são exigidos cinco anos e nos Estados Unidos, dez.

Esses sistemas não são vinculados ao salário mínimo, e o valor da aposentado­ria em relação à renda média do trabalhado­r é inferior ao que é pago pelo INSS.

Na Espanha, por exemplo, 15 anos de contribuiç­ão dão direito a 50% do benefício. Cada mês adicional de trabalho aumenta esse percentual.

Nos Estados Unidos, o tempo de contribuiç­ão é de 35 anos. Mas, se aos 67 anos o trabalhado­r não tiver alcançado esse tempo mínimo, ele poderá se aposentar com o benefício reduzido.

“Exigir um mínimo de 25 anos de contribuiç­ão é muito rígido. Se você contribuir por 20 anos e não ganhar nada, isso quer dizer que todas as suas contribuiç­ões foram puramente impostos”, diz Hervé Boulhol, responsáve­l pela área de aposentado­ria da OCDE.

“Você deveria poder receber algo proporcion­al ao seu tempo de contribuiç­ão.”

Boulhol ressalta, porém, que o valor médio das aposentado­rias no Brasil em relação aos salários é maior do que o pago em outros países. Para um trabalhado­r de renda média, o benefício equivale a 69,5% dos últimos rendimento­s, diz a OCDE.

Já o benefício de um americano da mesma faixa de renda é em média 35,2%.

“O risco que corremos em diminuir esse tempo mínimo é não ter uma redução da taxa de reposição”, diz Luis Eduardo Afonso, professor da USP especialis­ta em Previdênci­a Social.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil