Folha de S.Paulo

Investigaç­ões de chacinas estão sob sigilo e inconclusa­s

- DE BRASÍLIA

As investigaç­ões abertas pelas polícias do Amazonas e de Roraima sobre as duas chacinas ocorridas em seus presídios em janeiro continuam sob sigilo e sem conclusão.

Ninguém havia sido acusado na Justiça até a última sexta (17) como responsáve­l pelos crimes no Compaj, em Manaus, e na Pamc (Penitenciá­ria Agrícola de Monte Cristo), em Boa Vista (RR), que incluíram decapitaçõ­es e esquarteja­mentos.

Nos dois locais foram mortos 89 detentos. Outros três corpos foram achados numa mata nos fundos do Compaj —um deles foi identifica­do como sendo de um dos detentos que havia fugido do Compaj na hora da chacina.

Segundo o delegado de Polícia Civil de Manaus Ivo Martins, responsáve­l pelo inquérito que apura a morte dos 56 detentos no Amazonas, a investigaç­ão identifico­u que o motivo do massacre foi “uma briga de facções pelo controle do tráfico de drogas”.

Teria sido consequênc­ia de uma disputa local entre os grupos criminosos FDN (Família do Norte) e PCC (Primeiro Comando da Capital). Indagado se a disputa tem relação com o cenário nacional do narcotráfi­co e com outras facções, como o Comando Vermelho, o delegado disse que esse não é um foco da investigaç­ão. “Não estamos muito preocupado com esses aspectos históricos.”

A respeito do prazo para conclusão da investigaç­ão, o delegado disse que é incerto. “A gente não tem pressa para encerrar o inquérito. A tentativa é fazer um inquérito inteligíve­l.”

O inquérito corre em sigilo entre polícia, Ministério Público do Amazonas e Judiciário. A Folha perguntou ao Ministério Público qual juiz havia determinad­o o segredo de Justiça e qual foi a data da decisão, mas não houve resposta.

O secretário de Segurança Pública de Manaus, Sérgio Fontes, disse que há três inquéritos abertos para apurar a violência no sistema penitenciá­rio registrada em janeiro.

Além do Compaj, foram mortos quatro detentos na cadeia pública do centro de Manaus e quatro na unidade prisional do Puraquequa­ra. “O inquérito do Compaj está em fase de conclusão. O da Cadeia Pública já foi concluído e o da Puraquequa­ra está sendo o mais difícil de encerrar.”

“Foi um ato contra o não retorno dos líderes da FDN aos presídios do Estado e uma disputa entre as facções. Não tenho dúvidas. Eles já vinham planejando esses atos há muito tempo”, disse o secretário. Meses antes, líderes da FDN haviam sido transferid­os.

De acordo com Fontes, o pano de fundo das chacinas é a disputa pelo controle do tráfico de drogas no rio Solimões, por onde passam entorpecen­tes vindos do Peru e da Colômbia. “Quem domina o rio domina boa parte do tráfico.” (RV E FM)

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