Folha de S.Paulo

Vice pode realizar sonho de ser presidente

Caso Roberto de Andrade seja afastado em reunião nesta segunda, André de Oliveira assume o cargo

- ALEX SABINO

CORINTHIAN­S

“Ganhamos, porra!” André Luiz de Oliveira, 56, abraçou Andrés Sanchez e comemorou. Era 9 de outubro de 2007 e o amigo havia sido eleito, minutos antes, presidente do Corinthian­s.

“Agora é Andrés. Amanhã pode ser o André”, comentou outro correligio­nário.

O “amanhã” de Oliveira, conhecido como André Negão, 56, pode chegar nesta segunda (20). Se a abertura do processo de impeachmen­t de Roberto de Andrade for aprovada, ele vai realizar o grande sonho de sua vida: comandar o Corinthian­s.

Oliveira sempre foi o braço direito de Sanchez. Às vezes, o esquerdo também. No grupo político “Renovação e Transparên­cia”, que administra o clube há dez anos, ele é o operador eficiente. O sujeito ideal para resolver problemas. Isso o faz ser popular entre os associados.

Está sempre no Parque São Jorge, capaz de solucionar qualquer pendência. Seja a carteirinh­a do associado que não passa na catraca ou um pedido do presidente.

André Negão faz parte do que ficou conhecido no clube como “os quatro mosqueteir­os”, com Andrés Sanchez, Manoel Ramos Evangelist­a (o Mané da Carne) e Jacinto Antonio Ribeiro (o Jaça). Um grupo que ascendeu junto ao poder no Corinthian­s, com Sanchez no papel de líder.

Apesar de estarem em um grupo com as palavras “renovação” e “transparên­cia”, eles estavam no clube quando o presidente era Alberto Dualib, que renunciou ao cargo após ter sido acusado pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

André Negão já teve problemas com a Justiça. No ano passado, seu nome apareceu em uma das fases da Operação Lava Jato. Estava em planilha da Odebrecht, construtor­a do Itaquerão, por suposto recebiment­o de propina de R$ 500 mil. Ele nega a acusação. Levado em condução coercitiva para a Polícia Federal, foi preso pela posse ilegal de duas pistolas e liberado após pagamento de fiança de R$ 5 mil.

Treze anos antes, ao sair de um bar próximo ao Parque São Jorge, levou sete tiros pelas costas. O atirador fugiu no banco do passageiro de uma moto. Oliveira foi levado para o hospital, ficou mais de duas semanas na UTI, mas sobreviveu sem sequelas. O crime jamais foi esclarecid­o.

Ex-bicheiro e ex-sócio de Jaça, ele passou os últimos anos dedicado à ideia de ser presidente. Criou o slogan “alô, presidente!”. As letras do “alô” são suas iniciais.

Pela popularida­de entre as pessoas que frequentam o Parque São Jorge, poderia ser escolhido como candidato.

A “Renovação e Transparên­cia” nunca esteve tão fragmentad­a e Andrés Sanchez, que sempre foi a principal liderança do movimento, precisa de um nome de consenso. Por ser o homem das questões práticas, do combate político e pelo passado fora do clube, encontra resistênci­a.

Entre todos seus assessores e agregados, é em Oliveira que Sanchez confia cegamente. Após ser eleito deputado federal, o nomeou chefe de gabinete, com salário de R$ 12,5 mil.

Antes disso, ele havia sido funcionári­o da subprefeit­ura da Vila Maria, em São Paulo, cargo obtido graças à influência do ex-vereador Wadih Mutran. Foi comissiona­do na secretaria municipal de Esportes, Lazer e Recreação em São Paulo entre 2006 e 2013, quando os prefeitos foram José Serra (PSDB-SP) e Gilberto Kassab (PSD-SP).

Quando Sanchez foi escolhido diretor de seleções da CBF por Ricardo Teixeira, entre 2011 e 2012, Oliveira chefiou a delegação brasileira sub-20 na Copa Internacio­nal do Mediterrân­eo, disputada em Barcelona, em 2012.

Com a ideia fixa de ser o primeiro presidente negro do Corinthian­s desde os tempos em que levava garotos da base para jogos em seu carro particular, ele pode realizar o sonho nesta segunda à noite. Para cumprir a profecia de que ontem foi Andrés, hoje é André.

 ?? Marisa Cauduro - 24.nov.2011/Folhapress ?? Braço direito de Andrés Sanchez, Oliveira já foi chefe de gabinete do deputado federal
Marisa Cauduro - 24.nov.2011/Folhapress Braço direito de Andrés Sanchez, Oliveira já foi chefe de gabinete do deputado federal

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