Folha de S.Paulo

O novo senhor Justiça

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BRASÍLIA - Na semana em que a Câmara abriu o processo de impeachmen­t, um grupo de deputados lançou a ideia de anistiar Eduardo Cunha. Os parlamenta­res diziam que o peemedebis­ta teria prestado um bom serviço ao dinamitar o governo Dilma. Por isso, deveria ser perdoado pelas acusações de receber propina e mentir sobre as contas milionária­s no exterior.

“Eduardo Cunha exerceu um papel fundamenta­l para aprovarmos o impeachmen­t da presidente. Merece ser anistiado”, declarou um dos porta-vozes do movimento, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

O ruralista não se limitou às palavras em defesa do correntist­a suíço. Como presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça da Câmara, patrocinou uma série de manobras para protelar o processo de cassação do aliado. Numa delas, encerrou a sessão antes da hora marcada, ignorando protestos de colegas. Teve que deixar o plenário às pressas, sob gritos de “Vergonha!”.

“Serraglio foi escolhido a dedo paraseroho­memdoCunha­naCCJ”,diz o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Às vésperas do Carnaval, o peemedebis­ta foi escolhido a dedo para outra missão: assumir o Ministério da Justiça. No novo cargo, terá voz de comando sobre a Polícia Federal, que investiga políticos, lobistas e empreiteir­os acusados de envolvimen­to no escândalo da Petrobras.

A prudência aconselhar­ia Michel Temer a entregar a pasta a um jurista respeitado, independen­te e sem ligação com os réus da Lava Jato. O presidente fez o contrário: nomeou um deputado do PMDB que tentou anistiar o alvo mais notório da operação.

Ao indicar o novo senhor Justiça, Temer deixa claro que desistiu de simular indiferenç­a sobre a condução da Lava Jato. Ele também parece não se importar em ser cobrado pelo que diz. Na semana passada, o presidente afirmou que a escolha do ministro seria “pessoal, sem conotações partidária­s”. Nove dias depois, entregou o galinheiro a um amigo das raposas.

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